Por opção, mais do que por princípio ou feitio, abstenho-me o mais das vezes de me pronunciar sobre o cenário político do meu país.
É puro e simplesmente um tema de intervenção que há muito deixou de verter um mínimo de interesse que fôsse para mim, tanto o país em causa se tornou (ou deixou tornar), de há umas largas décadas a esta parte, presa da mais vil e abusiva horda de predadores de cargos públicos e clientelas privadas, que só um esgar do meu maior desdém lhe concedo.
Considero-me, para todos os efeitos - ainda que sem descartar um certo lirismo na palavra escolhida - um exilado. Estou aqui virtude da minha mais privada escolha, é certo. O meu país a dada altura entristecia-me tanto, que na hora de partir não hesitei por aí além. E é também certo que é aqui que gosto de estar e onde, paredes meias com todas as dificuldades de integração que me assistem, numa sociedade tão distinta daquela de onde vim e tão fértil em adversidades para quem de fora, dizia eu, é aqui que tenciono levar a minha vida - por muitos e bons anos, assim conto. E é por esse motivo que o que por cá vai acaba, muito naturalmente, por ter maior pêso no meu pensamento e opções temáticas.
Também, por opção, e também por princípio, quiz, desde o início, que este espaço não se tornásse tanto num confessionário umbilicocêntrico - como alguém recentemente tão bem qualificou (não exactamente nestes termos retorcidos mas recorrendo a outros relativamente parecidos) uma parte significativa dos blogues e webpages que abundam no nosso ciberespaço lusófono e não-só - mas quiz sim que este fôsse essencialmente um espaço de partilha de informação e de uma ou outra experiência pessoal que eu, na minha mais empírica vivência dos dias, tomásse por relevante ou digna de ser dada ao escrutínio público - ou quanto mais não fôsse, como dizia aquele slogan publicitário de uma conhecida marca de filmes fotográficos, para mais tarde recordar. Falar muito deste e/ou do mundo-que-há-de-vir não faz decididamente o meu género.
Não tenho jeito para isso.
Também não escondo - é público, basta olhar com um mínimo de atenção para este espaço - que sigo uma série de outros blogues, uns mais outros menos, aguerridamente entrincheirados nas mais diversas militâncias pelas mais dispares causas. No mais dos mesmos encontro alguma substância de valor: seja no opinar ou no estilo prosáico, aqueles que mais me entretêm ou me fazem acusar o toque têm todos eles o seu quê de louvável ou de cativante. Questão de gosto (discutível como todos os outros).
Mas em qualquer recurso, trago ainda e sempre no peito o meu país. Quer queira, me apeteça muito, pouco ou nada, que assim seja, não há como evitá-lo: é a minha Pátria e excede largamente toda a medida de todos os meus sentimentos, por mais que preferisse que assim não fôsse. Penso nessa pedaço do Mundo que me viu nascer todos os dias que passam.
E por isso, a propósito do que amanhã por lá vai, sinto agora uma urgência consumida em falar. Não me ocorre, acerca do teatro político que por lá vai a palco, muito mais do aquilo que disse ainda agora, um pouco mais acima, neste texto.
Dei hoje, força das circunstâncias, uma vista de olhos em diagonal por uma série de blogoespaços a cargo de muitas e eméritas pessoas (o último adjectivo escolhido não carrega a menor ponta de sarcasmo, digo-o com sentida simpatia, quando penso nos casos em que penso: you know who you are!) que não tendo tido, na generalidade dos casos, o prazer e a honra de conhecer pessoalmente, estimo muito no (semi-)anonimato e na distância.
Decidi por isso eleger - fui eu desta a eleger por minha exclusiva conta e risco! - o texto da nossa lusoblogª. no Mundo que mais me dissésse sobre o escrutínio d'amanhã.
Um Grande Bem-Haja, Leocardo!