sábado, 26 de setembro de 2009

Indo o País a votos...


Por opção, mais do que por princípio ou feitio, abstenho-me o mais das vezes de me pronunciar sobre o cenário político do meu país.

É puro e simplesmente um tema de intervenção que há muito deixou de verter um mínimo de interesse que fôsse para mim, tanto o país em causa se tornou (ou deixou tornar), de há umas largas décadas a esta parte, presa da mais vil e abusiva horda de predadores de cargos públicos e clientelas privadas, que só um esgar do meu maior desdém lhe concedo.

Considero-me, para todos os efeitos - ainda que sem descartar um certo lirismo na palavra escolhida - um exilado. Estou aqui virtude da minha mais privada escolha, é certo. O meu país a dada altura entristecia-me tanto, que na hora de partir não hesitei por aí além. E é também certo que é aqui que gosto de estar e onde, paredes meias com todas as dificuldades de integração que me assistem, numa sociedade tão distinta daquela de onde vim e tão fértil em adversidades para quem de fora, dizia eu, é aqui que tenciono levar a minha vida - por muitos e bons anos, assim conto. E é por esse motivo que o que por cá vai acaba, muito naturalmente, por ter maior pêso no meu pensamento e opções temáticas.

Também, por opção, e também por princípio, quiz, desde o início, que este espaço não se tornásse tanto num confessionário umbilicocêntrico - como alguém recentemente tão bem qualificou (não exactamente nestes termos retorcidos mas recorrendo a outros relativamente parecidos) uma parte significativa dos blogues e webpages que abundam no nosso ciberespaço lusófono e não-só - mas quiz sim que este fôsse essencialmente um espaço de partilha de informação e de uma ou outra experiência pessoal que eu, na minha mais empírica vivência dos dias, tomásse por relevante ou digna de ser dada ao escrutínio público - ou quanto mais não fôsse, como dizia aquele slogan publicitário de uma conhecida marca de filmes fotográficos, para mais tarde recordar. Falar muito deste e/ou do mundo-que-há-de-vir não faz decididamente o meu género.
Não tenho jeito para isso.

Também não escondo - é público, basta olhar com um mínimo de atenção para este espaço - que sigo uma série de outros blogues, uns mais outros menos, aguerridamente entrincheirados nas mais diversas militâncias pelas mais dispares causas. No mais dos mesmos encontro alguma substância de valor: seja no opinar ou no estilo prosáico, aqueles que mais me entretêm ou me fazem acusar o toque têm todos eles o seu quê de louvável ou de cativante. Questão de gosto (discutível como todos os outros).

Mas em qualquer recurso, trago ainda e sempre no peito o meu país. Quer queira, me apeteça muito, pouco ou nada, que assim seja, não há como evitá-lo: é a minha Pátria e excede largamente toda a medida de todos os meus sentimentos, por mais que preferisse que assim não fôsse. Penso nessa pedaço do Mundo que me viu nascer todos os dias que passam.

E por isso, a propósito do que amanhã por lá vai, sinto agora uma urgência consumida em falar. Não me ocorre, acerca do teatro político que por lá vai a palco, muito mais do aquilo que disse ainda agora, um pouco mais acima, neste texto.

Dei hoje, força das circunstâncias, uma vista de olhos em diagonal por uma série de blogoespaços a cargo de muitas e eméritas pessoas (o último adjectivo escolhido não carrega a menor ponta de sarcasmo, digo-o com sentida simpatia, quando penso nos casos em que penso: you know who you are!) que não tendo tido, na generalidade dos casos, o prazer e a honra de conhecer pessoalmente, estimo muito no (semi-)anonimato e na distância.
Decidi por isso eleger - fui eu desta a eleger por minha exclusiva conta e risco! - o texto da nossa lusoblogª. no Mundo que mais me dissésse sobre o escrutínio d'amanhã.


Um Grande Bem-Haja, Leocardo!






3 comentários:

  1. 1. Compreendo o teu tom amargurado, mas não existe nenhum governo perfeito neste mundo.
    O poder de facto está no povo, pois é este que elege os políticos.
    Os portugueses em vez de se preocuparem apenas com o consumo e a ostentação, reflexos duma mentalidade possidónia do tempo do Tonito de Santa Comba Dão, deviam ter maior participação cívica.
    O típico tuga fala muito, mas nunca gosta de se chegar à frente. Conheço-o de ginjeira no meu quotidiano...
    Por exemplo, ninguém gosta de ser delegado de turma ou administrador do condomínio, mas todos gostam de falar mal da situação...
    O nosso povo sofre porque é masoquista: ainda está à espera que D. Sebastião venha salvar o país...

    2. Li o post do tal luso-macaense e não o subscrevo.
    Mal por mal, prefiro reeleger quem já fez alguma coisa, ainda que com erros, do que quem já esteve nos governos anteriores de direita e só fez asneiras, além de ter ideias extremamente retrógradas...
    Afinal de contas o PSD também quis fazer o mesmo, só que não teve coragem...
    Para mim a direita não é solução para o país. Esquerda sempre!
    Como já te deves ter apercebido, a minha esquerda não tem nada a ver com o PS...

    3. O direito de votar custou-nos a ganhar, por isso, sempre que posso, usufruo-o. :)

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  2. Meu Caro Maldonado.
    Obrigado pelo teu comentário.

    Só tenho um senão a objectar ao que afirmas: o PS, de "Esquerda", tem tanto quanto eu tenho de esquimó. O P.S. há 35 anos certamente era um partido de Esquerda na acepção clássica, comum, histórica, que ao termo "Esquerda" cabe. Hoje? Nem percamos dois minutos com o assunto: o único propósito do P.S. é a tomada e manutenção do poder pelo poder, absolutamente mais nada! o P.S. é um partido estritamente vocacionado para distribuir cargos públicos e clientelas privadas pelos seus pupílos: não se pauta por um mínimo que seja de sentido de serviço público ou de interesse pátrio, o seu único móbil é a feitura de carreiras para a sua gente, mais NADA! As evidências falam por isso...
    O P.S.D. também não será muito diferente nesse plano, e nessa constatação certamente estaremos de acordo.

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  3. Daí a necessidade de a sociedade civil sair da apatia a fim de se tornar num contrapeso do poder político...
    Os portugueses fatalisticamente pensam que só os doutores e os engenheiros é que podem salvar o país, quando tal cabe a cada um de nós no dia-a-dia através de certas atitudes cívicas.
    Além disso, actualmente Esquerda e Direita são conceitos cada vez mais ambíguos. Se calhar fará mais sentido falar-se de progressismo vs conservadorismo...

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