segunda-feira, 17 de outubro de 2011

Das causas de morte de uma causa morta (à nascença)

Comício do então recém-legalizado Partido Comunista Japonês (日本共産党 — Nihon Kyōsan'Tō), 
Parque de Hibiya (日比谷公園), Tóquio, nas imediações do Kōkyo, 1946 
— sob vigilância do ocupante.
Autor incógnito. Imagem obtida d'AQUI.


    Ainda estive, confesso, para escrever sobre o assunto, maçando-vos com meia-dúzia de impressões que, seguro estou, a maioria sacudiria para vão de escada, ou, na pior das hipóteses, ainda suscitaria novas e assanhadas indignações desta feita não contra os tradicionais bodes expiatórios de serviço, mas sim contra este mísero e mesquinho... Enfim... não será por isso. É falta de pachorra mesmo, e de qualquer modo, por regra, bem o sabeis, abstenho-me de aqui discursar sobre o que lá vai dess'outro lado do Mundo, do qual já nada de bom espero faz muito tempo, e de cujos vícios aqui faço por me desintoxicar.


   Eu só lhe acrescentava mais uma ou duas observações de quem colhe o benefício da distância de aqui estar, mas a minha regra — supra invocada — foi feita para se cumprir e não será certamente este o assunto que fará a excepção.






"Shut up! Shut up!" 
(LOW VOLUME SUGGESTED)





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3 comentários:

  1. Caro NanBanJin, claro que a dissecação do corpo de delito feito por Rentes de Carvalho expõe as vísceras apodrecidas de uma sociedade doente. Mas a meu ver, isso não implica que ainda tenhamos de aceitar de forma submissa qualquer óleo de rícino que nos queiram enfiar pela goela abaixo, mesmo sendo certo que em vence sempre são os que têm na mão a faca, o queijo e o prato onde isso se serve, e que o voto é miragem

    Beijinho

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  2. De acordo Ariel, a questão não está na causa ou suas aparentes motivações, está sim no método e no íntimo.
    Claro que eu não subestimo, ou tão pouco desprezo o crescente desespero de milhões de pessoas saturadas da prepotência de governos, eurocratas, dólarocratas, mercados, sistema financeiro, grande capital, precariedade, desemprego a alastrar, etc.. O problema é, em primeiro lugar, a diversidade e as incongruências das reinvidicações e do tal 'movimento', e sobretudo o modo infantil como este encara, aparentemente, o Mundo e a realidade em geral, revelando um profundo défice de memória histórica, política e geográfica.

    Por partes: há, antes de mais, neste 'movimento' ou 'luta' ou lá o que lhe queiram chamar, um ou dois pontos que ficaram totalmente por esclarecer mesmo para quem, como eu, tenha vasculhado bem nos canais que por princípio o(s) deveriam clarificar a começar pelo tal 'manifesto 15.O' que por aí circula:
    E corresse tudo bem, e a seguir? um desmantelamento institucional geral? Nacionalizações em bloco por toda a parte? o poder caído na calçada (disso não duvido que haja por aí uns quantos mortinhos para lhe deitar a mão) um PREC global? 'Especuladores' e 'exploradores' encostados ao muro, e a vala comum previamente cavada? Querem o quê? 'supressão da propriedade privada', 'apropriação popular dos meios de produção'? A terra a quem a trabalha? Querem o quê 'planos quinquenais', sovietes, politburos, nomenklatura? Haja juízinho, francamente!, já todos sabemos no que é que esse Frankenstein deu.
    O segundo ponto é este, será que as pessoas que saíram às ruas no 15.10 — que na generalidade dos casos se manifestou tão-só em cidades de países ditos 'industrializados' ou reconhecidamente dotados de um notório fulgor económico e de regimes políticos liberal-democráticos — têm realmente noção do que é a probreza autêntica, real, faminta desde os trapos que a viu nascer, diária e sem pingo de futuro, de comunidades, de nações inteiras por esse mundo fora, obrigadas a viver em economias falhadas além da redenção e nas mãos de regimes infinitamente mais corruptos e desprezíveis??
    Só se pedia que esta gente indignadíssima abrisse por um segundo os olhos e reflectisse um bocadinho sobre o que é, donde vem e para onde quer ir.
    E já agora ao invés de abusar desse chavão obeso dos tais '99%' que diz engrossar, desse antes graças aos céus de ter nascido algures onde sempre teve direito a comidinha quentinha no prato, a educação, a saúde, a paz, a cultura, a direitos humanos, e a um mínimo de organização, segurança e justiça providenciada por estados que por piores que sejam, ainda garantem a dignidade dos seus nomes — entre os verdadeiros 99%, provavelmente jamais haverá alguém que saiba o que uma fracção disso seja.

    Como RdC a meu ver, e com extraordinário poder de síntese arruma o assunto, tudo devia tão-só começar por uma reflexão íntima e só isso.
    E que cada um pensasse primeiro no que está disposto a fazer por si próprio e com vista a resolver os seus problemas e os dos seus.

    Tudo o resto só me lembrou as marchas pelo Iraque em 2003: dias depois, as bombas caíram e Segunda-Feira era dia de trabalho.
    Alguém se lembra?

    Beijinho Ariel,
    Obrigadíssimo pela visita,

    LFA/NBJ

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  3. Pela parte que me toca, acredite Luis que não quero de volta os sovietes nem os planos quinquenais, abrenúncio Satanás. O que penso é que é preciso que os decisores políticos europeus acordem e sejam verdadeiros lideres à altura do grave momento que se vive na Europa. Sim a Europa que tudo o que construiu foi com o sacrifício dos europeus, e não de extraterrestres que lhe trouxeram a qualidade de vida de que hoje desfruta. É verdade que há que repensar o estado social, que a Europa está gorda e enferma, mas há que repensar de forma a que não sejam os do costume, como vai ser, os pagantes do "ajustamento", que é o neologismo agora em voga para definir a miséria que aí vem. Sendo certo que a pobreza no mundo se reveste de formas que nenhum europeu imagina, também é certo que hoje face ao que nos espera, não estamos preparados nem ao nível das estruturas nem das mentalidades para se efectuar uma reconversão brusca do modo de vida, o processo necessita de um tempo de maturação. Quanto ao resto, estou totalmente de acordo com a sua abordagem.

    Beijinho NBJ

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