quarta-feira, 12 de outubro de 2011

ニホンザル / Nihonzaru









      Foi com tristeza de sobra que, pela manhã de ontem, tive a oportunidade de apreciar uma breve reportagem televisiva que dava conta da crescente preocupação e antipatia de que os macacos da pequena cidade de Nikkō [日光市], Prefeitura de Tochigi [栃木県], têm vindo a ser objecto, com as vozes indignadas de alguns comerciantes e habitantes da pequena localidade a Norte de Tokyo-To, conhecida sobretudo pelo seu imponente Tōshō-Gū [東照宮], e seu famoso pórtico dos Três Macacos Místicos ou Três Macacos Sábios [三猿 — Sanzaru, em Japonês simplesmente "Três Macacos"], a subir de tom pedindo uma solução drástica para o problema dos pululantes símios que há séculos partilham o espaço da povoação e respectivos lugares de peregrinação com a população humana local, numa ancestral e sã convivência que parece hoje seriamente ameaçada face a um aparente crescendo de agressividade por parte dos pequenos primatas, algo a que não será estranho o crescimento populacional da região e o seu sucesso enquanto chamariz turístico próximo da capital.

       Destino turístico de eleição para quem se encontre nas proximidades de Tóquio e, virtude de albergar alguns dos mais esplendorosos templos Budistas e santuários Shintoo do Período Edo — com destaque para o deslumbrante Tōshō-Gū —, Nikkō desde tempos imemoriais que acolhe igualmente uma expressiva comunidade local de Nihonzaru [ニホンザル/日本猿], os famosos macacos 'albinos' do Japão [nome científico: Macaca Fuscata], espécie nativa deste país e ainda em grande abundância um pouco por todo o território nacional, com excepção de Hokkaido e Okinawa. 







     Sucede que efeito aparente da pressão exercida pelo imparável afluxo de turistas à pequena localidade e consequente crescimento económico, urbano e demográfico, tem-se vindo a registar um proporcional crescendo de agressividade por parte destes (antes tidos por) simpáticos primatas, que entre ferozes ataques a crianças e adultos e não menos menosprezíveis furtos constantes em pequenas lojas de doçaria regional e afins — onde os omnipresentes omiyage (お土産 — doces ou outros pequenos souvenirs via de regra trazidos por visitantes de uma certa localidade, de regresso a casa, e para deleite de amigos e entes queridos) têm lugar de honra à porta desvelada dos ditos estabelecimentos —, parecem ter declarado guerra aberta ao turismo de Nikkō, principal fonte de dividendos da cidade.

        Nada de novo para quem melhor conheça semelhantes casos de menos amena simbiose entre humanos e macacos em Gibraltar, aí mesmo ao virar da esquina, ou em Cape Town, África do Sul, onde semelhantes casos de agressão sistemática de uma espécie à outra há muito se fazem sentir e deram já lugar a zelosas políticas de controle por parte das respectivas autoridades locais.






      Naturalmente, e em particular no que concerne aos Saru de Nikkō, a última coisa que eu queria aqui escrever seria uma crónica de uma deportação e/ou extermínio anunciados, ademais porque esta é uma espécie autóctone que me inspira o mais genuíno carinho e simpatia, e ainda que a irritação de algumas pessoas possa ter a sua razão de ser, esta é uma espécie que merece a mais benigna das protecções e afecto comum.

     Felizmente, Nikkō não é a única região onde estes bonitos bichos podem ser contemplados no cenário de um salutar convívio com populações humanas estabelecidas — outras partes da ilha maior de Honshū e Kyūshū, ilha do vosso NanBan, e em particular a Prefeitura de Oita, são morada de grandes comunidades nativas de Nihonzaru, e por cá não se fazem, até ao momento, ouvir queixas de maior — pelo menos que seja do meu conhecimento...






       Ainda assim, destaque e honra devidas são ao soberbo Jigokudani-Yaenkoen [地獄谷野猿公苑], inviolável santuário dos Nihonzaru de Nagano [長野県], em Yamanouchi [山内], um absoluto 'must' para aqueles que, pelo frio Inverno que aí vem, hajam de gozar do especial privilégio e felicidade de uma visita ao Japão central.

         Mais sobre este imperdível, ermo lugar do melhor deste  Japão que teima em dar mostras de si, AQUI, AQUI e AQUI.







        Deixo-vos com dois bonitos clips a desbravar caminho entre os mais cerrados corações.












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