terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Primus Inter Pares — A Mão-Tocada-P'los-Deuses de Takeda Souun




      De novo em redor do papel em branco e da negra, esfíngica Sumi, se há nome que haja nomear entre os que estipulam exemplo de assombro no deslinde das labirínticas estradas do Shodō — 書道 —, um só nome hoje me ocorre: Takeda Souun武田双雲.  

       Aos 35 anos de idade, Takeda é 'o nome'.
      




— Tane —

"Semente"






        «A singularidade da obra de arte é idêntica à sua forma de se instalar no contexto da tradição. Esta tradição, ela própria, é algo de completamente vivo e algo de extraordinariamente mutável. Uma estátua antiga da Vénus, por exemplo, situava-se num contexto tradicional diferente, para os Gregos que a consideravam como objecto de culto, e para os clérigos medievais que viam nela um ídolo nefasto. Mas o que ambos enfrentavam da mesma forma, era a sua singularidade, por outras palavras a sua aura. O culto foi a expressão original da integração da obra de arte no seu contexto tradicional. Como sabemos, as obras de arte mais antigas surgiram ao serviço de um ritual, primeiro mágico e depois religioso. É, pois, de crucial importância que a forma de existência desta aura, na obra de arte, nunca se desligue completamente da sua função ritual. Por outras palavras: o valor singular da obra de arte "autêntica" tem o seu fundamento no ritual em que adquiriu o seu valor de uso original e primeiro. Este, independentemente de como seja transmitido, mantém-se reconhecível, mesmo nas formas mais profanas do culto da beleza, enquanto ritual secularizado »




Walter Benjamin, in "A Obra de Arte na Era da sua Reprodutibilidade Técnica" (1936)







— Hikari —

"Luz"


    Nascido em Kumamoto — 熊本 —, Kyūshū, em 1975,  Takeda Souun武田双雲 —, iniciou a prática do Shodō — 書道 — aos 3 anos de idade sob a orientação de sua mãe, também ela Shodōka — 書道家 —, e desde então nunca mais largou os fude — 筆 — e a sumi — 墨 —, respectivamente, os pincéis e essa insinuante e sedutora  Tinta-da-China de que o Shodō vive.


       E não obstante um promissor percurso académico no foro das ciências e tecnologia, em 2001, o jovem Takeda, então com 26 anos, abandona a sua carreira profissional ao serviço de uma grande empresa do ramo da electrónica, para se dedicar a tempo inteiro à sua vocação de calígrafo. 
         Em 2003 é galardoado com o Longhua'cui Art Award atribuído pelo  Museu de Arte de  Shangai e, daí, o remanescente da seu percurso parece não encontrar limite no seu impulso ascendente: Takeda Souun é simplesmente um génio.


             O absoluto domínio de mão e o absoluto domínio da matéria-prima serão sempre, e em qualquer recurso, qualidades questionáveis, sobretudo num tempo em que a Arte — conceito difuso — o é e se celebra a si mesma enquanto pântano de vaidades.  


             O certo é que Takeda possui ambas
             Isso é seguro. 


             Isso é absoluto.

            





       E muito embora, uma parte ou o todo do que aqui vos proponho aparente ser de uma simplicidade infantil, quase-insultuosa para os que acabam de, desdenhosamente, ler e duvidar do que acima acabo de escrever, arrisco-me ainda assim a afirma-lo de peito-feito: isto é extraordinário.   Isto é raro.

          Isto é Takeda Souun. Lê-se assim  mesmo só-um

          E até o nome magoa.

           
































— Nami —

"Onda"



































A concluir, espreitemos...

3 comentários:

  1. NBJ,

    Amei!.....mais palavras para quê?

    Um abraço

    Blue

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  2. A ver se um dia destes mostro mais dele e de uns quantos outros que fazem coisas do arco-da-velha.

    Feliz de te ver Blue.

    Bjs.

    NBJ

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