De novo em redor do papel em branco e da negra, esfíngica Sumi, se há nome que haja nomear entre os que estipulam exemplo de assombro no deslinde das labirínticas estradas do Shodō — 書道 —, um só nome hoje me ocorre: Takeda Souun — 武田双雲.
Aos 35 anos de idade, Takeda é 'o nome'.
種 — Tane — "Semente" |
«A singularidade da obra de arte é idêntica à sua forma de se instalar no contexto da tradição. Esta tradição, ela própria, é algo de completamente vivo e algo de extraordinariamente mutável. Uma estátua antiga da Vénus, por exemplo, situava-se num contexto tradicional diferente, para os Gregos que a consideravam como objecto de culto, e para os clérigos medievais que viam nela um ídolo nefasto. Mas o que ambos enfrentavam da mesma forma, era a sua singularidade, por outras palavras a sua aura. O culto foi a expressão original da integração da obra de arte no seu contexto tradicional. Como sabemos, as obras de arte mais antigas surgiram ao serviço de um ritual, primeiro mágico e depois religioso. É, pois, de crucial importância que a forma de existência desta aura, na obra de arte, nunca se desligue completamente da sua função ritual. Por outras palavras: o valor singular da obra de arte "autêntica" tem o seu fundamento no ritual em que adquiriu o seu valor de uso original e primeiro. Este, independentemente de como seja transmitido, mantém-se reconhecível, mesmo nas formas mais profanas do culto da beleza, enquanto ritual secularizado »
Walter Benjamin, in "A Obra de Arte na Era da sua Reprodutibilidade Técnica" (1936)
光 — Hikari — "Luz" |
Nascido em Kumamoto — 熊本 —, Kyūshū, em 1975, Takeda Souun — 武田双雲 —, iniciou a prática do Shodō — 書道 — aos 3 anos de idade sob a orientação de sua mãe, também ela Shodōka — 書道家 —, e desde então nunca mais largou os fude — 筆 — e a sumi — 墨 —, respectivamente, os pincéis e essa insinuante e sedutora Tinta-da-China de que o Shodō vive.
E não obstante um promissor percurso académico no foro das ciências e tecnologia, em 2001, o jovem Takeda, então com 26 anos, abandona a sua carreira profissional ao serviço de uma grande empresa do ramo da electrónica, para se dedicar a tempo inteiro à sua vocação de calígrafo.
Em 2003 é galardoado com o Longhua'cui Art Award atribuído pelo Museu de Arte de Shangai e, daí, o remanescente da seu percurso parece não encontrar limite no seu impulso ascendente: Takeda Souun é simplesmente um génio.
O absoluto domínio de mão e o absoluto domínio da matéria-prima serão sempre, e em qualquer recurso, qualidades questionáveis, sobretudo num tempo em que a Arte — conceito difuso — o é e se celebra a si mesma enquanto pântano de vaidades.
O certo é que Takeda possui ambas .
Isso é seguro.
Isso é absoluto.
O absoluto domínio de mão e o absoluto domínio da matéria-prima serão sempre, e em qualquer recurso, qualidades questionáveis, sobretudo num tempo em que a Arte — conceito difuso — o é e se celebra a si mesma enquanto pântano de vaidades.
O certo é que Takeda possui ambas .
Isso é seguro.
Isso é absoluto.
E muito embora, uma parte ou o todo do que aqui vos proponho aparente ser de uma simplicidade infantil, quase-insultuosa para os que acabam de, desdenhosamente, ler e duvidar do que acima acabo de escrever, arrisco-me ainda assim a afirma-lo de peito-feito: isto é extraordinário. Isto é raro.
Isto é Takeda Souun. Lê-se assim mesmo só-um.
E até o nome magoa.
波 — Nami — "Onda" |
A concluir, espreitemos...
NBJ,
ResponderEliminarAmei!.....mais palavras para quê?
Um abraço
Blue
A ver se um dia destes mostro mais dele e de uns quantos outros que fazem coisas do arco-da-velha.
ResponderEliminarFeliz de te ver Blue.
Bjs.
NBJ
Belíssimo...!
ResponderEliminarAbraço!