quarta-feira, 22 de dezembro de 2010

Crónicas da Nova Guerra Fria



Novos vôos no horizonte:
F-1 em dia de treino e/ou aguardando reforma(s)?


          É assunto que, por diversos motivos e ordem de razão, tenho evitado trazer até este espaço, onde considerações em matéria de política e, em particular, de política internacional e em especial no que ao Japão e à Ásia Oriental se refere, não constituindo propriamente tabu para mim e não entendendo, eu, ser impróprio da minha parte abordar tais matérias neste blogue, em qualquer recurso não constitui território de escrita que colha a minha preferência — porque não sou analista nem nada que se pareça, não nutro quaisquer aspirações a liderar opiniões seja em que capítulo for, não domino, nem pouco mais-ou-menos, com absoluta segurança as questões em apreço neste campo e, quanto muito, limito-me, na posição geográfica, social e cultural em que me encontro, a reter, num lugar de espectador 'privilegiado' (enquanto gaikoku'jin*, como português e como 'ocidental')  de uma certa realidade, a abundante informação que diariamente diante de meus olhos desfila. O que, naturalmente, confina a minha liberdade de acção neste foro a uma moldura sobremaneira estreita. 

        E a prová-lo: os principais meios de comunicação social de cá, não cessam de dissertar sobre o tema.  Temos, por um lado, um Mainichi Shin'bun [毎日新聞], jornal de primeira importância no espectro mediático nipónico, tradicionalmente alinhado à Direita e manifesta e abertamente partidário de reformas constitucionais que permitam ao Japão, num futuro vindouro, resgatar a plenitude da sua soberania, mormente no tocante às responsabilidades em matéria de defesa nacional, a publicar a um ritmo quase-diário artigos bastante elucidativos no que concerne a um certo 'estado de espírito' latente no País do Sol-Nascente e entre a sua vizinhança — este e  este, e este e mais este, entre alguns exemplos mais expressivos — a respeito destas sensíveis matérias, e o certo é que o seu secular nemesis, o Asahi Shin'bun [朝日新聞], tradicionalmente alinhado à Esquerda e sobremaneira crítico de uma certa re-militarização do Japão, por estes dias, não pretendendo dar eco ao seu rival, reconhece contudo a mudança de paradigma dos tempos que se avizinham, para não dizer do 'tempo em que vivemos'. 

     

State of the Art Of War
Novo Mitsubishi ATD-X  5th Gen. Stealth Fighter
entrada a serviço prevista para  2014.
À altura dos J-10 da R.P.C.?

       



JIEITAI on parade: 22º Ano de Heisei [平成22年 (2010)], Outubro.

           


         E a verdade é que se há país no Mundo que, em matéria de Defesa, se acha numa posição no mínimo caricata, para não dizer absurda, esse país é o Japão
           Enquanto isso, a parada prossegue.






*literalmente: "pessoa-de-fora-do-país"(= estrangeiro) 

3 comentários:

  1. Tendo em conta a actual conjuntura internacional, é imperioso que o Japão tenha uma política de Defesa que lhe permita consolidar a sua soberania, por isso, o art.º 9º é anacrónico.
    Praticamente o Japão está à mercê de qualquer agressão estrangeira.
    Se o mundo já não receia a Alemanha e esta tem Forças Armadas porque é que o Japão não há-de tê-las também? Depender dos americanos para defender o seu próprio território é absurdo!
    Enfim, contradições da globalização...

    ResponderEliminar
  2. Viva Maldonado.

    Bom: o Japão, lá tê-las, têm-nas — como aliás é patente e o teor deste artigo assim o confirma (basta ver o vídeo da parada de Outubro, em anexo, para o constatar) — e além do mais possui uma importante e nada modesta indústria militar própria que apetrecha o JIEITAI com tudo do bom e do melhor em matéria de equipamento bélico — só não pode (por enquanto) exportar esse mesmo equipamento...
    E em última análise, é a potência "tutelar" (E.U.A.) quem, desde há 50 anos, mais pressão tem feito — e mais auxílio tem prestado nesse sentido — no que concerne ao rearmamento do Japão.
    A questão é que qualquer passo nesse sentido é, via de regra, recebido com muita hostilidade por largos sectores da sociedade civil nipónica — sectores esses que persistem em encarar o JIEITAI como um contingente pur'e simplesmente inconstitucional e ilegal — e sobretudo pelos seus vizinhos, ambas as Coreias e Taiwan mas sobretudo, e bem mais que todos os outros juntos, a R.P.C., que hoje claramente assume a ambição de vir muito em breve a ser a potência hegemónica neste hemisfério (se o não for já!) e antagoniza, por todos os meios possíveis, qualquer esforço por parte do Japão em cortar amarras com América para efeitos de defesa — por motivos óbvios, claro está...
    É uma situação muito distinta da da Alemanha, como podemos observar.

    Por outro lado não devemos esquecer que o Artigo 9º durante várias décadas foi muito benéfico para o Japão, pois além de ter ajudado a afirmar uma certa imagem pacifista e 'regenerad(or)a' do Japão, no plano internacional — o que permitiu ao país ressurgir no palco mundial de "cara lavada" — por outro lado obrigou os sucessivos governos do pós-guerra a limitarem as dotações orçamentais em matéria de defesa ao mínimo de 1% do P.I.B ao ano, o que naturalmente permitiu que fossem feitos largos e generosos investimentos em outras áreas, tidas por prioritárias, investimentos esses que fizeram do Japão a grande potência económica, industrial e tecnológica que é hoje, e estamos, é claro, a falar das áreas da educação, transportes e comunicações, desenvolvimento económico e industrial, investigação científica e tecnológica e também na área da cultura — tudo sectores onde o Japão esteve à frente do resto do Mundo nas últimas cinco décadas.

    Mas é evidente que os tempos são outros, e sobretudo no que respeita à R.P.C., é cada vez mais evidente que ninguém sabe verdadeiramente o que esperar daquele país e até onde vão as suas ambições...
    Há várias situações potencialmente explosivas nesta região — começando pelas tensões inter-coreanas e não esquecendo a questão de Taiwan — e subsistem várias disputas territoriais entre os actores desta peça, sobretudo no tocante a pequenas ilhas e vastas áreas marítimas que se estendem do Pacífico ocidental até ao Mar Amarelo, susceptíveis de conter recursos muito cobiçados, como petróleo e gás natural, e que a todo o momento podem dar origem a um conflito de proporções imprevisiveis (o caso do incidente nas Ilhas Sengoku em Setembro passado, a que faço referência no meu texto, é o exemplo perfeito de até que ponto os ânimos se podem exaltar por estas paragens...)
    E por último recordemos que o Mundo mudou radicalmente de há duas décadas para cá e que o futuro se joga, hoje, primeiro que tudo, deste lado do globo — o "Império do Meio" assim o dita.


    Grande Abraço, BOAS FESTAS,
    e obrigado, uma vez mais, pela visita,

    NBJ

    ResponderEliminar
  3. Obrigado pelo esclarecimento e pelos votos.
    Também te desejo um feliz Natal na companhia dos que te são mais caros.
    Abrs

    ResponderEliminar