Fascinante documentário da BBC (em Inglês, sem legendas... sorry!) sobre a assombrosa colecção de fotografias do miridíaco espólio de Albert Khan recolhidas no início do Século XX no Japão de Meiji, pelo próprio e assistido pelo seu 'Passepartout' Alfred Dutertre.
domingo, 22 de agosto de 2010
quinta-feira, 19 de agosto de 2010
Ligeiro Retrocesso / Pura Devoção
Tendo só hoje e por mero acaso me deparado com este extraordinário video-documentário no Youtube sobre o Hakata Gion Yamakasa [博多祇園山笠] de Julho passado, não podia de modo algum furtar-me a trazê-lo aqui, ao vosso TLNBJ, tanto mais, ou melhor, sobretudo porque este é 1001 vezes superior ao que quer que fosse que eu me propusesse fazer e trazer aqui, sobre o mesmo tema (ou qualquer outro!).
Muito, muito bem concebido, mesmo!
Justifica-se, em pleno, o ligeiro retrocesso no calendário.
Em quatro breves capítulos, totalizando aproximadamente trinta minutos de pura devoção, Hakata em todo o seu esplendor ao longo da semana santa desta terra firmemente politeísta, para apreciar à falta de melhor ao serão, não vá o cinecartaz de Verão daí ter pouco a oferecer, a televisão ser de fugir e as intermináveis querelas blogosféricas maçarem-vos de morte...
Então 'Kampai!' — Á Vossa!
sábado, 14 de agosto de 2010
A Noite Dos Sabres
Da longa noite de 14.08.1945, os protagonistas — da esquerda para a direita: General Shizuichi Tanaka (田中静壱), Comandante da Região Militar Leste; Major Kenji Hatanaka (畑中健二), da Guarda Imperial, líder dos insurrectos; General Korechika Anami (阿南惟幾), Ministro da Guerra; e o 'herói' da madrugada, Yoshihiro Tokugawa (徳川義寛), Camareiro-Mor do Tennō, responsável pela salvaguarda dos discos contendo o 'Gyokuon-Hōsō' (玉音放送).
É um daqueles argumentos quase-perfeitos para um thriller histórico pleno de acção, suspense, nervos e unhas roídas. E é uma página absolutamente verídica da História do Japão: há exactamente 65 anos, 14 de Agosto de 1945, à mesma hora que decorria o último raid aéreo da Guerra — tendo por alvo a cidade de Akita [秋田], próxima de Aomori, região de Tōhoku [東北], a qual albergava a última refinaria de petróleo intacta no Império — uma facção ultra-militarista da Guarda Imperial quase lograva o impensável — impedir a transmissão do Discurso Imperial proclamando a rendição incondicional do Japão e o fim da II Guerra Mundial.
sexta-feira, 13 de agosto de 2010
二天
Entre o espólio de uma certa colecção privada no Japão, conta-se uma pintura absolutamente notável, com mais de quatrocentos anos, representando um picanço no alto de um junco seco.
Elaborada a tinta-da-china e medindo cerca de um metro e vinte por sessenta, esta excepcional imagem exibe uma tensão e uma clarividência de espírito que sugerem exceder largamente os modestos limites impostos pelos breves traços e estreitas dimensões que a compõem.
O picanço, a ave atenta, pousada no alto do junco, exprime uma atenção e uma concentração simplesmente extraordinárias; o bico proeminente, pronunciado numa breve, quase-cruel, curvatura; o olhar fixo contemplando o Vazio que se estende ali defronte... Trata-se, sem dúvida, de um pássaro como esses que, de quando em vez, observamos nos nossos terraços e jardins. Porém, ao fixarmos o nosso olhar nesta obra, é, na verdade, aquele um-só traço, longo, tenso e'inda assim fluído, esse que compõe o junco ou a quase totalidade da sua extensão, o elemento que mais nos intimida.
Principiando do fundo, à esquerda, e como que cortando a tela num só movimento ascendente que se detém num ponto coincidente com o seu centro, ele há ali uma graça e uma força cega, indómita, no fluir daquele um-só traço tenso e estacionário, enfrentando, desafiante, aquele 'Nada' no horizonte; e o observador é levado a concluir que o pintor desta obra seria, certamente, um homem absolutamente isento de qualquer medo. De outro modo, como poderia ele ter a confiança e simultaneamente a destreza únicas daquele um-só traço comparável tão-só ao golpe letal de uma espada afiada?
Ou, mais precisamente, 'Niten' era o seu nome em sede das belas-artes, sendo o mesmo melhor conhecido entre nós pelos nomes Shinmen Musashi [新免武蔵] ou Miyamoto Musashi [宮本武蔵].*
*in "Go'Sho'Rin — 五書輪 — O Livro Dos Cinco Anéis",
Miyamoto Musashi, do Prefácio
ed. bilingue Japonês-Inglês,
a cargo de William Scott Wilson e Matsumoto Michihiro,
Kodansha International, Tokyo, 2001.
quinta-feira, 12 de agosto de 2010
A Colina Dos Mártires
Ainda de Nagasaki, 05.08.2010.
Ao abrigo de um certo fair use ou fair dealing, e só porque o Inglês suave e cuidado de Boxer guarda um charme e encanto mui recomendáveis a qualquer leitura que nos proponhamos fazer (ajuda, ajuda, a cativar o interesse dos mais cépticos, garanto-vos...), atrevo-me aqui e hoje a transcrever uns quantos parágrafos de um dos livros que me acompanha em todas as horas e que é quase como que um objecto totémico para mim, e para que a história que se segue vos possa ser transmitida como eu gostaria de o fazer — no meu melhor Português — remetendo-vos, no que respeita a outros detalhes de interesse na mesma, para a obra e autor que uma vez mais vos proponho. Os editores de C.R. Boxer que me perdoem e me puxem as orelhas se for caso, lembro só que não faço um tostão com isto e tão só me presto a este desempenho, porque a história que se segue merece mesmo ser contada. E lembrada.
A página que ficou para a História do Japão como o incidente do San Felipe — um imponente e bem recheado galeão oriundo de Manila com destino a Acapulco, que um tufão desviara até à costa do feudo de Tōsa, Shikoku, em Outubro de 1596, e cuja carga deu azo a uma intrincada disputa entre a corte de Toyotomi Hideyoshi [豊臣秀吉] e os seus legítimos proprietários espanhóis —, e que propulsionou os eventos conducentes a ess'outra dos vinte e seis Mártires do Japão, é, na obra que hoje uma vez mais vos deixo por referência, tratada com o devido detalhe e, aos mais interessados, para a mesma remeto.
Em todo o caso, aqui fica aquele que considero ser, porventura, um dos melhores relatos e reflexões sobre essa trágica manhã de 5 de Fevereiro de 1597.
«The Spanish Pilot-Major [of the San Felipe], Francisco de Olandia, in a ill-judged effort to impress the Taikō [太閤 — 'retired Regent' or '(retired) Shogun'] Hideyoshi's commissioners [led by Masuda Nagamori] with the power of the Spanish King [Phillip II], incautiously admitted to Masuda that the Spanish overseas conquests had been greatly facilitated by the Christian "fifth column" (to use modern jargon) formed by the missionary friars before the arrival of the conquistadores themselves. This observation coincided exactly with what the [Buddhist] bonzes had been telling anyone who would listen to them, since 1570 at least. Coming from, as it were, the horse's mouth, it could hardly be ignored by even a confessed anti-Buddhist like Hideyoshi. This allegation either gave him the pretext for which he was seeking, or else (more likely) decided him that Masuda and Seiyakuin [Seiyakuin Zensō Hōin — Hideyoshi's physician and a staunch enemy of the Portuguese Jesuits] were right in their denunciation of the political menace of Christianity.
«In either event, his reaction was swift and decisive. He forthwith sentenced the [Spanish] Franciscans to death by crucifixion at Nagasaki, as violators of the law of the realm and disturbers of the public peace. At first Hideyoshi threatened to include all the missionaries in his condemnation, but he soon thought better of this — mainly because the Jesuits were still regarded as essential intermediaries for the Macao trade — and in the end only a mixed party of six Franciscans, seventeen of their Japanese neophytes, three Japanese Jesuit lay brothers (these last included by mistake) or twenty-six persons in all, were crucified in Japanese fashion at Nagasaki on a cold winter's morning, February 5, 1597, after having been paraded overland from Kyoto via Sakai and exposed to the derision of the populace.
«The foregoing, be it noted, is substantially the Portuguese and Jesuit account of the matter; for the Spaniards and surviving Franciscans roundly declared that it was the Portuguese who denounced the Spaniards as conquistadores, and who instigated the Japanese to confiscate the San Felipe's cargo. Fray Juan Pobre (an eyewitness and passenger in the great galleon), expressly states that Hideyoshi's decision to confiscate the cargo was taken before the pilot's interview with Masuda, and not after it as the Jesuits account imply. The Spaniards further alleged that the Jesuits not only declined to intervene on behalf of the Franciscans when asked to do so, but went so far as to entertain the judge who presided at the execution. Bishop [Pedro] Martins [Portuguese Jesuit Bishop of Japan, 1591-1598] and his compatriots, it is perhaps needless to add, formally denied on oath these and similar accusations; but they were nevertheless widely believed and repeated throughout the Spanish colonial empire, and did a great deal to foster the ill-feeling between Spaniards and Portuguese which was never very far bellow the surface.
«It may be asked what justification did the Japanese have for their suspicions of European aggression by or through the missionaries? The answer is that they had more excuse than reason. Christian religious propaganda was (and is) in the nature of things difficult, if not impossible, to disentangle from the political affiliations of those who support it. Thus [Pierre François Xavier de] Charlevoix, the Jesuit historian of the Society's activities in Canada as well as in Japan, pays his colleagues the somewhat dubious compliment that they taught their Red Indian converts to mingle Christ and France together in their affections. Without suggesting that they proceed on exact parallel lines in Japan, it is worth noting that the Jesuit padre, Balthazar Gago, writing from Hirado to his patron King João III of Portugal in September 1555, claims credit for teaching his neophytes to pray for the Lusitanian monarch as their potential protector (...)
«It is true that experience of the warlike nature of the Japanese speedily disillusioned the vast majority of the Jesuits from any notions they might ever have harbored about the feasibility of the conquest of Japan by [a] Catholic King, and [Alessandro] Valignano was at pains to stress repeatedly the vital necessity of respecting Japanese national independence.
«But it was the father-superior, Gaspar Coelho, a responsible and withal avowedly pro-Japanese Jesuit, who admitted more native novices into the Society than any of his predecessors or successors, who had warmly advocated the conversion of Nagasaki into a strongly fortified point d'appui, and even suggested Spanish military aid for the Christian daimyo of Kyushu.
«It is true that Valignano sharply rejected these dangerous suggestions. But he and Bishop Martins were both at one in urging King Felipe to order the cancellation of the Great Ship's annual voyage from Macao to Nagasaki, after the martyrdom of 1597, in order to cause an economic crisis and general unrest in Japan.
«They considered that this situation would bring about either the overthrow of Hideyoshi, or induce him to accord official recognition to Christianity in his domains. Bishop Martins pointed out that the regent was particularly vulnerable to this form of economic sanctions, since he was at war with China, and deliberately broken with his only other overseas market in the Philippines.
«The advice was not taken, and Hideyoshi's death the next year rendered it unnecessary; but it is interesting as showing how inextricably mixed were religious, political, and economic motives in the Jesuit Japan mission.
«That the Japanese were by no means so ignorant of the state of affairs in Europe, as the Jesuits sometimes seem to have imagined, can be seen from Hideyoshi's correspondence with the Governor of the Philippines, Don Francisco Tello.
«The governor had sent an envoy, Don Luis Navarrete, to claim the confiscated cargo of the San Felipe, and to ask why the Franciscans had been executed.
«Hideyoshi in his reply, drafted in a spirit more of sorrow than of anger, explained that Shintō (there is no mention of Buddhism, be it noted) was the pith and core of the Japanese social structure. He went on to point out that the friars threatened to upset the whole national fabric with their subversive Christian propaganda,
«“And if perchance, either religious or secular Japanese proceeded to your kingdoms and preached the law of Shintō therein, disquieting and disturbing the public peace and tranquility thereby, would you, as lord of the soil, be pleased thereat? Certainly not; and therefore by this you can judge what I have done.”
«The logic of this retort is indeed unanswerable; although there is no need to suppose that it carried the slightest conviction to the closed mind of a Roman Catholic conquistador, who naturally considered that the activities of the Franciscans were inspired by God, and therefore above human interference, whereas those of the Shintō priests were motivated by the Devil, and as such entitled to be forcibly suppressed.»*
*in "The Christian Century in Japan 1549 - 1650", C. R. Boxer, Manchester 1993.
segunda-feira, 9 de agosto de 2010
Urakami ontem, Urakami hoje
✽ ✣ ✽
Assim terão pensado, porventura em simultâneo, o 'artilheiro' Kermit Beahan, e os Comandantes Sweeney e Ashworth, ao avistarem aquela breve brecha entre as nuvens acasteladas sobre o céu de Nagasaki, que serviam de muralha etérea ao velho porto encalhado entre colinas voltadas a Sul.
Sobre Nagasaki, Sweeney e Ashworth não podiam perder tempo a decidir-se: afinal, desfalcado de uns preciosos seiscentos galões de fuel, que pouco mais deixava para o troço de regresso a Tinian (se desse sequer para lá chegar próximo, pois que, nas circunstâncias, o cenário mais optimista seria o de uma aterragem de emergência e depósitos sêcos algures em Okinawa...), somado à quase uma hora (de fuel e nervos) esbanjada no ar, sobre Yakushima, em espera pelos seus dois parceiros de missão, o 'The Great Artiste' e o 'Big Stink', e ao sobrepêso do 'Gorducho' que dormia, silente, esfíngíco, tenso e ameaçador, no seu frágil ventre de metal, a atrasar-lhe a marcha e a expô-lo a eventual fogo inimigo, ao 'Bockscar' urgia desenvencilhar-se sem mais delongas da sua sinistra carga...
Ali, a escassos quarteirões dos estaleiros navais da Mitsubishi/MHI, 'justificativo' da preferência pelo alvo em causa. Uma brecha no céu... Tanto basta.
A Catedral de Urakami, aberta aos fiéis de Cristo em 1914, após quase dois séculos e meio de sofrimento na clandestinidade da sua reduzida e'inda assim tenaz comunidade de 'Kakure Kirishitan' [隠れキリシタン], entre exílios forçados, martírios e humilhações de toda a ordem, a somar a mais quatro décadas d'outras tantas dificuldades na obtenção de meios e financiamento para a sua edificação — suprimida a proibição da Fé Cristã em plena Meiji Jidai [明治時代] —, calhou achar-se, naquela fugaz manhã de Agosto, ali mesmo sob a trajectória do projéctil...
O resto são as imagens que as câmeras da época registaram...
✽ ✣ ✽
...Mas Urakami não morreu.
Urakami vive.
E Nagasaki vive.
E é a Vitória da Vida que hoje celebramos.
sábado, 7 de agosto de 2010
É Como Um Sonho Acordado...
05.08.2010.
:
"Arrasta-me à côncava funda do grande Lago da Noite,
"Cruzando as grades de fogo entre o Céu e o Inferno (...)"
"Até à boca escancarada..."
"...Atrás de mim..."
"É como um sonho acordado..."
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