sábado, 14 de agosto de 2010

A Noite Dos Sabres





Da longa noite de 14.08.1945, os protagonistas — da esquerda para a direita: General Shizuichi Tanaka (田中静壱), Comandante da Região Militar Leste; Major Kenji Hatanaka (畑中健二), da Guarda Imperial, líder dos insurrectos; General Korechika Anami (阿南惟幾), Ministro da Guerra; e o 'herói' da madrugada, Yoshihiro Tokugawa (徳川義寛), Camareiro-Mor do Tennō, responsável pela salvaguarda dos discos contendo o 'Gyokuon-Hōsō' (玉音放送).


É um daqueles argumentos quase-perfeitos para um thriller histórico pleno de acção, suspense, nervos e unhas roídas. E é uma página absolutamente verídica da História do Japão: há exactamente 65 anos, 14 de Agosto de 1945, à mesma hora que decorria o último raid aéreo da Guerra — tendo por alvo a cidade de Akita [秋田], próxima de Aomori, região de Tōhoku [東北], a qual albergava a última refinaria de petróleo intacta no Impériouma facção ultra-militarista da Guarda Imperial quase lograva o impensável — impedir a transmissão do Discurso Imperial proclamando a rendição incondicional do Japão e o fim da II Guerra Mundial.
A história completa (em Inglês) AQUI.


12 comentários:

  1. Muito interessante.
    A dita Noite dos Sabres foi deveras empolgante...
    É pena que nem toda a gente tenha conhecimento dos eventos que antecederam o anúncio da rendição do Japão.

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  2. É.
    É, sem dúvida, uma história interessante.
    Boa para todo o tipo de conjecturas e de exercícios de "história alternativa", do género "E se...?", "E se...?", "E se...?".
    Dá, de facto, que pensar, sobre o que teria sucedido se os golpistas tivessem encontrado os discos com o discurso do Tênno e os houvessem destruído ou simplesmente impedido a sua radiodifusão...
    Observar o destino de milhões de seres humanos preso por um frágil cordel é, de facto, assustador.
    Pessoalmente, creio que se o golpe do 14 de Agosto tivesse ido avante, adiando 'sine die' a rendição e o fim imediato das hostilidades, prevista para o dia seguinte, o Povo Japonês teria perdido a paciência e certamente um levantamento popular em grande escala — arregimentado e instrumentalizado pelo Partido Comunista — cedo ou tarde haveria de eclodir.
    Com os Russos a entrar por Karafuto (Sakhalin) e Curilhas adentro e a prepararem-se para assaltar Hokkaido em fôrça e a breve trecho, a situação seria ainda mais dramática — podíamos ter hoje, à semelhança das duas Coréias, um "Japão do Norte" e um "Japão do Sul": e a verdade é que a situação esteve bem mais próxima de chegar a esse ponto do que a grande maioria das pessoas hoje recorda.

    De resto, o Príncipe Fumimaro Konoe — Primeiro-Ministro em três dos últimos governos anteriores à tomada do poder pelos militares, a voz da sensatez no seio da elite imperial, e certamente das que mais pesou na decisão de acatar os termos da declaração de Potsam e aceitar a derrota — previu em termos quase proféticos esse eventual desfecho da guerra para Japão, e ao invocar essa possibilidade — o que, segundo consta, teve um efeito de um último 'trunfo' na partida opondo-o aos adeptos da continuação da guerra a qualquer custo — foi instrumental para o fim da guerra e a salvação deste país de uma catástrofe de proporções inimagináveis.

    Obrigadíssimo uma vez mais pela visita, meu caro.
    Volta sempre!

    NBJ

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  3. Por incrível que possa parecer, esse episódio consiste na principal tese de sustentação dos pró-bombardeamento atómico!

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  4. Meu Caro Nuno:

    Ele há coisas que não lembram ao Diabo e que ainda assim se insinuam neste Admirável Mundo WorldWideWébico...
    Ai...Haja Deus...


    Obrigadíssimo pela visita — e aproveito para o felicitar, uma vez mais, desta feita pelo certeiro "tiro de canhão" (no Estado Sentido) sobre as recentes visitas da Royal Navy a Hong-Kong! Incontestável!
    Sugeria-lhe só que o linkasse a uns quantos artigos de uma certa e displiscente comunicação social.

    Meu Grande Abraço,
    NBJ

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  5. Conheço apenas muito superficialmente a história japonesa, mas me parece que essas sentenças que os filósofos da ciência chamam de "condicionais contrafactuais" (se isso.. então aquilo) tomam uma dimensão dramática, avassaladora, no caso do Japão, ao longo do século XX. Antes interessava-me mais ler algo sobre o confronto interno que houve em 1936, que terminou com a derrota do grupo pró-Eixo. (...E se tivessem ganho?) Agora, depois dessa sua postagem, também vou atrás do que há sobre a Noite dos Sabres. A propósito do primeiro evento, há um livro que estou à procura já há alguns anos, do diplomata, sociólogo e escritor mexicano Daniel Cosío Villegas, chamado "El fascismo japonés". É das primeiras e raras obras da Fondo de Cultura Económica, fundada pelo próprio Villegas. Ele conheceu bem o Japão dos anos 30. Deve ser interessante, não?

    Um grande abraço

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  6. Meu Caro Daniel:

    Antes demais, muitíssimo obrigado por mais esta visita e interessante comentário.

    Concordo em pleno que, no que respeita ao Japão, o período entre as duas guerras mundiais, e em particular o início do Período Showa (1925-1989) com ênfase a aplicar à década de 30, é sem dúvida um território de estudo fascinante para quem se interesse quer pela História do Japão quer, numa visão mais generalista, pela história do Século XX no seu todo.

    Confesso que o meu domínio desta área de estudo não vai tão longe quanto eu desejaria, mas ainda assim creio estar em boa posição para me pronunciar sobre este tema e muito sucintamente deixo-lhe aqui algumas pistas para futura pesquisa.

    Aquilo que se pode, não sem algumas reservas, apelidar de "Fascismo Japonês" (não obstante a forte ligação doutrinária e pragmática de certas correntes surgidas aqui, com certas outras suas congéneres Europeias) terá, porventura, como ideólogo de topo, o ensaísta e politólogo Kita Terujirō (北 輝次郎), melhor recordado pelo seu 'nom de plumme' Kita Ikki (ou Ikki Kita, como por vezes surge referenciado em alguma literatura, sendo Kita [que significa 'Norte' em Japonês, o apelido e Ikki o nome próprio]).
    Ikki Kita, que, à semelhança de Mussolini e de tantas outras figuras do seu tempo, iniciara a sua carreira como activista político e como ensaísta na barricada da esquerda socialista, ferozmente republicana, do seu país — tendo sido fortemente influenciado pelos eventos conducentes a Revolução Chinesa de 1911 e inspirado pela figura e desempenho de Sun Yat-sen — e ao longo das décadas seguintes viria a desenvolver a sua linha muito 'suis generis' de pensamento, que em diversos aspectos se aproxima muito, é facto, da linha de certas correntes autoritárias Europeias próximas do fascismo de Mussolini e do nacional-socialismo hitleriano, mas com inúmeras peculiaridades de permeio, indissociáveis, digo-lo eu, de uma certa idiossincracia Asiático-Oriental — sobretudo por via de uma fortíssima influência sorvida do Confuncionismo.
    Ikki Kita começou por advogar um certo socialismo extremo-estatista numa obra publicada primeiro em 1906 que tem por título "Teoria Geral da Política Nacional e do Socialismo Puro" (国体論及び純正社会主義 "Kokutairon oyobi Junsei Shakaishugi"), mas seria cerca de uma década mais tarde que o seu ultra-nacionalismo e 'pan-asianismo' (mas sem nunca se descartar da suas origens ideológicas socialistas, note-se!) surgiriam com toda a clareza naquela que é, sem margem para dúvidas, a sua obra mais conhecida e que tem por complicado título "Providências Gerais para uma Reconstrução do Japão" (日本改造法案大綱 "Nihon Kaizō Hōan Taikō") a qual, para certos sectores da ultra-direita japonesa, assumiria o valor de um quase "Mein Kampf" nipónico, e seria precisamente esta obra, aquela que serviria de inspiração a uma série golpes militares de grande violência levados a cabo na sua maioria, por jovens oficiais da Marinha e do Exército, sobretudo ao longo da década de 30, e de entre os quais se destaca o célebre "NI-NI -ROKU" (Golpe de 26 de Fevereiro de 1936) —certamente o mais grave desse período, tendo obrigado a uma pronta e veemente reacção por parte do próprio Imperador Showa, e cujo desfecho não apenas teria um enorme impacto no futuro do Japão como acabou por conduzir à prisão, julgamento secreto e execução por fuzilamento do próprio Ikki Kita (considerado e julgado como instigador do golpe) a par de vários oficiais militares implicados no mesmo.
    Este período da História do Japão e os eventos aqui por mim referidos, note-se, eram objecto de um quase obsessão por parte do escritor Yukio Mishima, e serviram de inspiração a várias obras suas, com destaque para o conto intitulado "Patriotismo" e o filme baseado/decalcado do mesmo, realizado pelo próprio Mishima, ambos de 1966.

    (CONTINUA)

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  7. (CONTINUAÇÂO DO COMENTÀRIO ANTERIOR)

    Com o desaparecimento (físico) de Ikki Kita, o dito 'Fascismo Japonês' teria novos desenvolvimentos com a ascensão daquele que se tornaria na 'figura de prôa' de um certo "fascismo-propriamente-dito" aplicado ao Japão: Seigō Nakano (中野 正剛 — Nakano Seigō), uma espécie de 'José António Primo de Rivera japonês', fundador do 'Kokumin Dōmei' (国民同盟 ), a Aliança Nacional (que acabaria por fundir-se com o 'partido único' sob a tutela dos militares, a "Associação para o Auxílio Imperial" [Taisei Yokusankai — 大政翼賛会]), tendo o próprio Nakano privado ao longo da década de 30, com os ditadores europeus Mussolini e Hitler, e ele há os que identificam, na pessoa de Nakano, o 'arquitecto' da aproximação do Japão a Roma e Berlim ( — só a título de curiosidade descobri há pouquíssimo tempo que há aqui, em Fukuoka, por incrível que pareça, onde eu resido, uma estátua erigida em memória do próprio Nakano!, mas confesso que não sei exactamente onde é que ela se acha e como tal ainda a não vi ao vivo e a côres!)

    Mais tarde, Nakano fundaria uma nova força política de inspiração claramente fascista chamada 'Tōhōkai' (東方会 — a 'Sociedade Oriental'), organização essa que teria por rival o 'Kōdōha' (皇道派 — Facção da Via Imperial ), fundada pelo General Sadao Haraki, carismático líder militar ao qual iremos mais adiante, sendo de notar que estas 'cliques' políticas, tendo convivido em aparente harmonia ao logo de todo o período que vai desde o início da década de 30 até ao desfecho da II Guerra Mundial, defendiam ideias muito distintas quanto à eventual expansão territorial do Império, estando, no essencial, de acordo num só ponto: essa expansão era vital para o futuro do Japão e do seu povo e teria que ser empreendida, tão-só, pela força das armas.

    Já no decurso da Guerra do Pacífico, e com o conflicto a piorar para o Japão de dia para dia, Nakano, sempre ferozmente crítico do regime de Hideki Tōjō e da direcção militar da guerra, acabaria por ser colocado em prisão domiciliária e o próprio suicidar-se-ia por 'seppuku' em Outubro de 1943.

    (CONTINUA)

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  8. (CONTINUAÇÃO — 3ª parte)

    De permeio, e entre as figuras oriundas das hierarquias militares e com excepcional influência política neste período, destaca-se, como não podemos deixar de recordar, a figura do General Sadao Araki (荒木貞夫), fundador do 'Kōdōha' (↑) e 'supremo manipulador' dos bastidores das forças armadas.

    Araki teria uma influência capital na definição da composição dos subsequentes governos militares e, na sequência da ocupação da Manchúria (depois rebatizado Manchukuo) em Setembro de 1931 pelo Exército Kwantung — processo no qual Araki desempenhara um papel instrumental —, o próprio viria a ser nomeado Ministro da Guerra e várias fontes são peremptórias ao afirmar que, nessa condição, e pelo menos até à chegada de Tōjō ao poder em 1941, Araki era então o verdadeiro 'ditador' do Japão.
    Curiosamente, Araki era o mais entusiástico defensor do chamado 'golpe a Norte' (Hokushin-ron - 北進論), ou seja, de uma guerra de expansão dirigida a Norte contra a União Soviética, que a concretizar-se, certamente teria conduzido a II Guerra Mundial numa direcção muito distinta daquela que hoje recordamos...

    Os nomes e eventos aqui por mim referidos creio que possuem um certo valor acrescentado para a compreensão deste período da História do Japão e da natureza ideológica do poder dominante nessa época e pela Guerra do Pacífico adentro.
    A obra que o Daniel refere, confesso, é-me de todo desconhecida, mas se nada objectar a que dê seguimento à sua pesquisa recorrendo a leituras em Inglês, sugiro-lhe como primeiro passo, que principie pelo brilhante "The Rising Sun — The Decline and Fall of the Japanese Empire, 1936-1945" da autoria de John Toland (vencedor de um Prémio Pulitzer), obra bem investigada e uma excelente síntese desse período, e a título complementar o também mui recomendável "Japan's Imperial Army: Its Rise and Fall, 1853-1945" da autoria de Edward J. Drea.


    Espero ter sido útil! ( E acho que devo ter escrito o comentário mais longo da história da blogosfera!!)

    Meu Grande Abraço,
    Do Japão,

    NBJ

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  9. NBJ, realmente existe uma enorme deficiência no Ocidente, em muito daquilo que respeita ao Japão. Obrigado pelos esclarecimentos.
    As fontes euro-americanas são bastante díspares e em menos de uma hora, é possível visitar certos "links" que se contradizem no que respeita à posição do imperador japonês: para uns era um radical belicista, enquanto outros se baseiam em testemunhos - como o poema apresentado no Conselho, quando se decidiram pelo ataque aos americanos. Há uma tendência para apresentar a "noite dos sabres", como um perigosíssimo episódio que comprovava a relutância do Japão em cessar as hostilidades. Quem os leia, julga ter-se tratado de uma rebelião de massas. Enfim, oportuno...

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  10. Caro Amigo,

    Fantástica a sua resposta. Domo arigato gozaimashita! Desculpe pela demora em responder; também vejo que neste fim de semana vou ter que ficar algumas horas dedicado a acompanhar as últimas novidades do seu blog.

    Um mapeamento assim dos personagens e de suas ideias é sempre muito proveitoso para entender partes da história. Gostaria de lhe pedir permissão para editar a resposta e publicá-la no nosso Lusofonia Horizontal, com fotos dessas figuras históricas. Vou até procurar uma da estátua de Nakano na internet.

    Tenho recebido os livros de Daniel Cosío Villegas nos últimos dias. Vou ver se em breve coloco algumas pinceladas sobre o curioso e também pouco explorado japonismo latino-americano.

    Meu Grande Abraço,

    Daniel

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  11. Obrigado eu, meu caro Daniel.

    A dizer a verdade: poucos dias depois de deixar aqui a minha longa resposta à sua pertinente intervenção, fiz um pequeno périplo pela cidade e descobri a estátua dedicada a Nakano Seigo.
    É um tanto distante de minha casa, está inserida no precinto de um certo santuário Shintoísta local e é de facto um monumento estranhamente imponente.
    Logrei colher algumas fotos do mesmo, mas, confesso, era já tarde, caía a noite na cidade e as fotos não ficaram tão vistosas, ou melhor, com a qualidade que eu gostaria e por isso não as publiquei ainda aqui.
    Um dia destes, se Deus quiser, regresso ao 'local do crime' e tiro mais — e melhor, assim espero — e pásso-las par'aqui.

    Esteja à vontade para seleccionar o quer que seja deste espaço para divulgar/reeditar na "L.H.". Sem restrições.

    Meus melhores cumprimentos,
    volte sempre,

    L. F. Afonso, NBJ

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  12. Meu caro amigo,

    Estive fora por um tempo, mas retorno para acompanhar as novidades. Então foi lá? Também andei verificando os livros que me indicou. Como fui ressuscitado para o interesse pelo assunto, devo comprá-los para ler com mais tempo.

    Se e quando puder, gostaria de ver as fotos. Com mais tempo, se puder enviar para meu e-mail: oliveiracunha@hotmail.com.

    Devo postar sua mensagem tão-logo, e retomar esse nosso "trabalho" estranho de blogueiro.

    Um grande abraço e até a próxima,

    Daniel

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