sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

O homem de quem elas falam...





...e ao serão, estando nós em casa ociosamente vasculhando os canais da tv, e eis senão quando damos de frente com este ☝ videoclip, e eu páro por um instante a olhar... e a seguir não vou de modas e saio-me com esta p'ra Etsu:

"...mas, a sério, diz-me lá a verdade... quando o romance acaba e elas vão para casa e se fecham no quarto e toca de acender uma fileira de velinhas a toda a volta e apagam as luzes do tecto e a seguir se vão sentar no chão do quarto, muito tristes, abraçadas às pernas de cabeça de encontro aos joelhos flectidos, a choramingar, é ou não é esta a balada que faz de banda-sonora??..."

Resposta (muito sêca) da Etsu: "Tal e qual..."

(Wilde bem sabia o que dizia quando disse que a Vida imita a Arte...)


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É verdade: já a dobrar a casa dos 40 e com duas décadas de currículo como entertainer em várias frentes (música, rádio, cinema, tv), Fukuyama Masaharu (福山雅治 - n. 06.02.1969) permanece irredutível no seu trono de princípe encantado transgeracional, a fazer suspirar as joshi e josei deste Japão e além-ilhas.

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Ele é raro o dia em que este ídolo de estádios e arenas do J-rock de uma forma ou de outra não nos entre pela vida adentro, na forma de um qualquer spot publicitário, cantiga de embalar corações já ali ao virar da esquina, riff de guitarra rockeira de um qualquer catchy hit rodado até à exaustão na rádio, entrevista num talk-show, cartaz de rua, capa de revista...
...E a sua última empreitada no pequeno-ecrã é, nada mais nada menos, que a interpretação do protagonista na recém-estreada série dedicada à figura de Sakamoto Ryoma (坂本龍馬), samurai de referência, herói nacional do Japão, obreiro dessa improvável aliança que uniu os clãs de Satsuma e Choushuu, pedra angular da Restauração Meiji, e atavismo/arquétipo desse Yamato-damashii que o Japão hodierno teme haver-se dissipado algures no vazar da maré da sua História recente.
Sakamoto Ryoma já foi, aliás, tema de múltiplas obras destacadas, entre pelo menos sete séries televisivas, cinco obras cinematográficas e inúmeros romances, novelas e manga.

É certo que Fukuyama é, sem dúvida alguma, dotado de uma fotogenia natural, invejável para qualquer aspirante ao estrelato, em todo o caso era a última nippo-vedeta que eu esperaria ver neste papel...


















































Sakamoto Ryoma - 坂本龍馬 -, original e réplica: qualquer semelhança entre ambos é (decididamente) pura coincidência...

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Bom... verdade seja dita, tive já a oportunidade, no serão de Domingo passado, de ver um episódio desta telenovela e quer-me parecer que o cavalheiro afinal de contas até se presta bem ao papel. 

Deixo-vos com um pequeno clip promocional da ante-estréia, e dizei-me de vossa justiça...
[3ª vez que edito este anexo via YouTube — eles são casmurros mas eu só mais... — desta feita, é um excerto de uma reportagem de um canal de televisão Chinês.]




Yoi shuumatsu wo! - 良い週末を! Bom fim-de-semana!



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segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Capítulos Omissos: Fukuma

福間  - Fukuma - 12.10.2009

“Essa jovem senhora, Kayoko —,” disse ela, quebrando então aquele silêncio tenso, amordaçante... “…ela certamente era…maravilhosamente bela...”
O mar frio, imaculado, reflectido no copo que ele segurava, era claro, quieto, e reluzia como se feito cristal translúcido.
“Sim... Era linda!… Mais linda que qualquer outra mulher que eu visse em toda a minha vida…”
O Professor fitou o mar, através das lentes sombreadas dos óculos, e lançou o olhar sonhador ao céu do entardecer. Mas já nada que ele dissesse poderia ferir Tsuneko…
“Estou certa que assim era… linda de morrer. Quase consigo imaginá-la (…).”
“Magnífica como só a luz do sol da madrugada! Uma visão do Além — não faria mal tentar escrever um poema com ela por tema,” disse o Professor. E Tsuneko, radiante, retorquiu:
“Sem dúvida alguma, assim farei.”



MISHIMA, in “Actos de Adoração” (1965)









sábado, 16 de janeiro de 2010

Aos Kenshi e demais entusiastas da modalidade...

Revisão da matéria dada e tempo para um breve relance do tema da 57ª edição do Zen Nippon Kendo Senshuken (57回全日本剣道選手権), realizada no já bem pretérito dia 03.11 do ano transacto, e tão somente porque a edição de Janeiro de 2010 da revista mensal Kendo Nippon (剣道日本 - assim... em Japonês, e amanhem-se queridos leitores e amigos... gambattê...), traz um DVD de retrospectiva do evento, com os grandes shiai do dia e... Eu sei... eu sei o que me vão já dizer: "Eh pá... mas isso já está tudo no YouTube e em não-sei-quantos outros foruns, no do KendoWorld, etc. e tal...". Certo... não contestando, mas porque eu calculo que haja, entre vós, aqueles que gostam mesmo de estar a par destas coisas, porque o saber não ocupa lugar, e porque há aqueles picuinhas como eu, que querem ter acesso a estas coisas no formato preferencial para ver lá em casa, na televisão grande da sala, bem refastelados no sofá, com a distância correcta face ao ecrã e a fazer rewind e fast-forward com o controlo remoto do leitor-vídeo até mais não, e com o balde das pipocas ali mesmo à mão de semear... ora aqui fica a sugestão...
Um só reparo que tenho aqui a deixar relativo a este vídeo-suplemento da revista em referência, é que não traz daqueles magníficos replays em high speed camera que a trupe adora nestas coisas... bom, nem tudo sai perfeito... Mas é uma boa prenda para os interessados, sem dúvida.
Deixo-vos aqui, com um dos melhores embates da jornada, esse que opôs os dois áses da actualidade, Teramoto Shoji (寺本将司), campeão mundial da modalidade, e o grande vencedor do dia, Uchimura Ryoichi (内村良一), que nunca é demais rever e rever...


...e tornar a ver...

É um gosto.

quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Hakata tem mais encanto quando coberta de branco...

Hakata - 博多 -, ontem, 13.01.2010.

Queiram perdoar-me uma certa repetitividade temática, mas sucede que para mim, nado e criado em Lisboa - cidade que nunca me deu o encanto desta alvura -, a neve tem um confesso fascínio infantil.
De tal modo estonteante, no que a mim respeita, que dou comigo capaz de deixar os meus afazeres de lado só para ter o gozo de contemplar, assim, em grande e sem entraves, os tons de sonho de um dia como este.

Em qualquer recurso, dias assim, em Hakata/Fukuoka, não fazem regra, nem sequer nos dias mais frios do ano.
O que torna um dia como este particularmente cobiçado para o propósito de uma sortie por lugares dilectos em redor da minha base de operações!

恵比寿橋 - Yebisu Bashi

Acresce que nunca me canso de regressar a um certo número de terreiros nas minhas proximidades.
Sítios onde, a cada dia que passa, parece que lhes descubro um detalhe novo qualquer...


聖福寺 - Shofuku-Ji

Chance, tempo, pois, para um regresso a Shofuku-Ji (聖福寺) - daqueles lugares onde só não vou mais vezes, nem eu sei ao certo porquê...

E é realmente memorável, um dia assim, em que as côres deste tudo ora fixo, ora a girar pelas artérias da cidade, se transfiguram como que por indecifrável magia.

E se bem que neste meu propósito de, amadoristicamente, fazer por captar os tons do dia em imagens próprias, me permito um certo experimentalismo no tratamento das mesmas, asseguro-vos: é assim que as imagens fazem sentido, para mim...



Sortido de impressões ao acaso.

Ao passar aqui. E acolá.



Selbstportrait mit Kälte



E para que as guardais, vós também, num lugar só vosso...















美しい、ですね。

segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

Outro Simulacro do Inferno...

Decididamente, estes trailers maçam-me...


Ele houve um tempo em que este género épico-bombástico feito de heroicidades esgaravatadas dos confins da memória recente, me emocionava. Com acutilância.

Lendas de baioneta em riste e aluviões de sangue frio, recordadas, talvez, aqui ali, neste ou naquele cenotáfio de Washington D.C., acalentado por umas parcas flores depostas pelos poucos vivos que realmente recordam esses mortos, esses bravos caídos d'outrora, e os homenageiam em qualquer dia do ano - excepção feita às celebrações oficiais desses dias que a História gravou em frio mármore, com a devida pompa e circunstância, com direito a parada de Marines de uniforme de gala, silent drills de luvas brancas, salvas de M14 meticulosamente ensaiadas, toques fúnebres de clarim, discursos graves de oficiais superiores - de rostos graves - admoestando os vivos, a que lembrem o impagável sacrifício no Altar da Pátria e pela Liberdade, e vetustos veteranos dessas campanhas longínquas, de bivaque e muitas condecorações ao peito, disfarçando, em expressões de empedernida ausência deste tempo d'agora, a comoção que estas invocações exumam...
Protocólos escrupulosamente observados e cumpridos. Culto da Pátria. Culto dos Mortos.
Sim: tudo isto ainda encerra genuína comoção. E inesgotável encanto.



Mas há, depois, essa indústria do entretenimento das imagens em movimento, imparável a capitalizar a repetição exaustiva dos clichés destas colossais epopeias das operações anfíbias em ilhas e praias de Neverland, verde mar, alva areia e coqueiros a estoirar em explosões medonhas, em tempestades de aço a excederem a modesta moldura da nossa imaginação...
A previsível gritaria de "Fir'in the hole!", diálogos e solilóquios pretensamente lírico-filosóficos, uma pitada de cinismo aqui e uns pozinhos d'humor-negro ali a apimentar o palavreado habitual, e atiradores furtivos em foxholes desalojados a diabólicos bafos de lança-chamas e retratos em slow motion do pavor sofrido e da ferocidade desses infelizes soldados desconhecidos, imolados na grande voragem da batalha inenarrável, História feita para enlatar e servir em HD, Blu-ray ou o que mais eles entretanto inventem...

É assim este The Pacific, em breve num pequeno-ecrã perto de si - lá par'ó Verão...-, pela mão dos artesãos do costume, Steven Spielberg, Tom Hawks e Gary Goetzman, para a HBO, trupe que fez ess'outro Band Of Brothers - Irmãos De Armas, que alguns de vós recordarão com maior ou menor saudade dos serões entedeados de quando não havia melhor que ver em casa ou no cinema, e do qual a nova mini-série de 10 episódios, mais que uma sequela, é uma espécie de lado B... e vira o disco e toca o mesmo.
Se na primeira série íamos com os páras da Easy Company da 101ª Divisão Aerotransportada, da Normandia ao Reich dos 1000 Anos em galopante derrocada, desta feita vamos com a 1st Marine Division, de Guadalcanal a Okinawa, dando um giro pela Nova Guiné, Peleliu e Iwo Jima...
Ferro, fogo e tripas esventradas para toda a família. E tal como uma Coca Cola fresquinha, Enjoy!

domingo, 3 de janeiro de 2010

Romaria Shintoísta

Tempo ainda para uma breve crónica de Ano Novo.
Dia de Ano Novo no Japão é dia de oração.
Não há cidade, bairro, comuna, aldeia, que não tenha o seu Jinja (神社 - "santuário") de eleição, pronto a receber as preces dos fiéis locais em dias festivos - cada qual entregue a este ou aquele Kami (神 - "espírito/deus"), um Jinja é, por definição, relicário de coisas sérias, assim os de cá asseveram.
Daí, a solenidade própria de certos dias exigir que os devotos e respectivas famílias se dignem deslocar-se ao seu santuário local a fim de prestar tributo ao Kami venerado na sua comunidade. É assim o Shintoísmo (Shintoo - 神道 - "a Via dos Espíritos"), complexo legado de crenças animistas do Povo de Yamato, que, junto com o Budismo, completa o corpo sincrético-religioso do Japão.
Não há como escapar-lhe quando se vive aqui.

E porque também eu já vou carregando algo desta Grande Pátria Insular dentro de mim, dia 1 lá me fiz ao frio e à chuva e vai de ir, de manhã p'la fresca, ao Kushida-Jinja (櫛田神社), santuário-mór das gentes de Fukuoka/Hakata, de sua feita consagrado ao Tengu (天狗), estranha deidade semi-demoníaca e de má reputação segundo as sutras budistas; via de regra figurado numa máscara de côr vermelha ou negra representando um ancião de expressão feroz, espessas sobrancelhas franzidas e rangendo os dentes afiados, e destacando um distinto longo nariz que lhe confere a fisionamia mais característica.
O Tengu, sendo sobretudo conhecido como patrono dos Yamabushi (山伏), fraternidade monástico-militar da região de Kumano, próxima de Nara, a uns bons 500 km daqui, portanto, aqui confesso-vos não fazer a menor ideia de como se estabeleceu este culto na baía de Hakata, nem tão pouco que espécie de fervor, mística ou temor reverencial inspira, este demiurgo, aos locais.

Verdade verdadinha é que em dia de prece ninguém falta à chamada...


Por volta das 9:00 da manhã o cenário era este:

O cortejo dos devotos do Tengu seguia rua abaixo, dobrava a esquina, dava a volta ao quarteirão e parecia não cessar de crescer até por volta da hora de almoço que aqui coincide com o meio-dia...

E não seria o 1ºC. de temperatura no ar quem fôsse demover os crentes de prosseguir na sua demanda de ir colher o bom auspício ao narigudo Espírito. Ali, bem enfileirados ao frio, lá aguardavam estoicamente a sua vez de chegar junto do haiden (拝殿), relicário propriamente dito diante do qual se deposita a prece, suplica ou simples deferente vénia.

Enquanto aguardávamos, também nós, pacientemente, a nossa vez de chegar junto da veneranda deiade, tempo para apreciar alguns detalhes do lugar.

Sobre o pórtico da Torii (鳥居), dois kanji ilegíveis, mas bem bonitos, por sinal.

Os dois Komainu (狛犬) ou Shiishi (石獅子) - como por vezes são referidos aqui -, leões de guarda em bronze, completam o tríptico da entrada no recinto religioso.


Curioso adereço, este, ainda sobre as nossas cabeças ao transpormos o pórtico: representação do Sheng Xiao (生肖) chinês, ou Eto (干支), como lhe chamam os d'aqui
- esse Zodíaco d'Oriente, que nos mistifica...

Aqui o zoom possível...

...e lá íamos, passo a passo, chegando próximo do altar desta hermética liturgia, dando, de escapada, uma vista aqui e ali, nas omnipresentes bancas de doçaria, amuletos e souvenirs...

...Ah! Pois é o Ano Do Tigre - (Tora toshi [虎年])!
E a respectiva estatuária, neste dia, não poderia, de modo algum, escassear.
E já mais próximos do haiden, escutamos o rufar dos taiko (太鼓) que seguem, disciplinadamente, o entoar do solene mantra que ecôa do interior do relicário...
E não cuideis de fazer juízos precipitados acerca de tão elaborado cerimonial.
Enquanto as orações decorrem, as insondáveis Miko (巫女), imprescindíveis auxiliares de acção religiosa, vão zelando escrupulosamente pelo asseio do recinto e observância de todas as exigências ritualísticas em curso...
Findas as orações, tempo ainda para escolher um talismã ou oferecer um Ema (絵馬).
Hamaya, flechas protectoras contra os maus espíritos, primam entre os amuletos mais requisitados.
Que os Kami vos abençoem a todos.

明けましておめでとう!
Akemashite omedetoo!