11.25: 自決の日、三島由紀夫と若者たち。(2011) |
A princípio, mais que surpresa, a notícia causa estranheza.
Depois, e após alguma reflexão, tudo faz sentido: afinal tinha mesmo que ser este, o passo seguinte e mais que óbvio, assim vindo de quem vem.
Wakamatsu Kōji [若松孝二], oriundo do meio proto-marginal do Pink Eiga (Soft Porn/Sexploitation versão japonesa) das décadas de 60/70 do século que lá vai, e enquanto realizador sempre colheu no fértil território do tabu, o melhor da sua obra. É hoje, certamente, o último cineasta de substância num país que já prometeu muito mais ao território da Sétima Arte.
E é precisamente em temas de teor incómodo, que Wakamatsu tem, ao longo da última década, demonstrado uma faculdade única de re-invenção do cinema japonês, partindo da honesta assunção de que o país do tudo-no-seu-devido-lugar esteve sempre, e desde tempos imemoriais, no limiar dessa explosão potenciada por um sem-número de ímpetos transgressivos face a uma ordem social tida por quase-perfeita.
Assim sendo, e depois de "United Red Army" (実録・連合赤軍 あさま山荘への道程, Jitsuroku Rengo Sekigun: Asama sanso he no michi [2007]) — análise desencantada da extrema-esquerda nipónica encarnada no Rengō Nihon Seki Gun (Exército Vermelho Unido do Japão), célula terrorista saída de moldes idênticos aos de um R.A.F./Baader-Meinhof e Brigate Rosse, e tomando a barbárie de Asama-Sanso (1972) por ponto de partida —, seguido de "Caterpillar" (キャタピラー [2010], Urso de Prata para Melhor Actriz [Terajima Shinobu] no Festival de Berlim de 2010) — autópsia do horror da guerra, pelas mãos e olhos da mulher de um 'herói nacional' tão deificado quão desfigurado até ao limite do grotesco...—, filmar, logo de seguida, os eventos conducentes ao 'Incidente de Ichigaya' (25.11.1970), Mishima e os Tatenokai, tinha naturalmente que ser o desenlace apto a dar continuidade (e não necessariamente conclusão) ao confronto desse Japão auto-anestesiado, com os monstros do seu passado recente.
"11.25: Jiketsu No Hi, Mishima Yukio To Wakamono Tachi" [11.25: 自決の日、三島由紀夫と若者たち — "11.25: O Dia do Sacrifício, Mishima Yukio e a Juventude"] , segue a par e passo a sequência de factos conducentes ao duplo suicídio de Yukio Mishima e do seu lugar-tenente Morita Masakatsu, a 25 de Novembro de 1970, em pleno Quartel-General do JIEITAI, após uma tentativa fracassada de sublevação militar com o fito de anular a Constituição de 1947 — um tema já amplamente debatido neste espaço, pelo que, e a título de referência, me permito remeter-vos para os textos já aqui antes trazidos a respeito destes e de outros eventos, recordando apenas que o caso em si, permanece, 41 anos volvidos sobre o mesmo, como um misto de tragicomédia negra, mito e intolerável embaraço num país que ainda se debate, hoje, com o mistério insolúvel das motivações por detrás da morte do seu mais celebrado escritor do Século XX.
A ante-estreia foi já agendada para 27 de Novembro, aqui.
Espero sinceramente que seja um grande filme, digno dos espíritos que invoca.
E, a sê-lo, que chegue até vós.
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