domingo, 14 de agosto de 2011

Two Lost Souls



   Domingo de Obon [お盆].
    Domingo de chuva.
    Domingo de tédio.
    Pensara fazer algo de mais proveitoso.
   Estou-me nas tintas. (se há coisa que a Etsu gosta, e a deixa em solene silêncio,  é ver-me a pintar)
    Por altura do Obon é suposto pensarmos nos Mortos
   Ora eu penso nos Mortos todo o ano. E hoje pus-me antes a pensar em carpas, nessas coloridas Koi [] que abundam por tudo quanto é charco neste país e se amontoam, sôfregas, nas margens dos lagos dos templos a olhar aflitas para miúdos e graúdos que lá dão a gosto as duas moedas de 100 ¥enes ao homem das hóstias, para as ver pular de satisfação, empurrando-se umas às outras, furiosas, embrutecidas, de olhos esbugalhados  à cata da esmola alimentícia, o pobre pedaço de pão ázimo industrializado a que só elas, as carpas, no seu peculiar e apertado modo de existir, atribuem especial favor.
    São umas criaturas extraordinárias, as carpas. Porém, algo me diz que são uns bichos infelissíssimos.


   Depois veio-me à memória a tal canção que todos os putos do meu bairro eram praticamente obrigados a saber de cor e que todos aprendiam, imposição dos mais crescidos, com maior ou menor empenho, a dedilhar à guitarra — quase-rito iniciático de acesso à idade das perguntas complicadas. As tais a que as canções podem dar resposta. 
(Se bem que no mais das vezes, raramente chegássemos lá, às constatações de facto feitas canções...)


     ... E de súbito ocorreu-me como os anos passam, até que a cifra secreta de uma canção, num dia assim, como que por magia, surja revelada, em todo o seu esplendor — ora pois claro! lá está, era mesmo disto e de vidas assim que falava a trova...













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