sexta-feira, 5 de agosto de 2011

2053








      Não Caríssimos. Não se trata de um exercício de futurologia ou do título de uma qualquer novela de antecipação ou cine-odisseia sci-fi.

     O título que dá mote a este breve escrito — e por referência à obra videográfica que hoje vos proponho [☝] — alude, contrariamente ao que possa sugerir, a um passado bem recente e ainda bem presente, e ainda que obscurecido pelo incómodo do tema de má-memória que lhe dá forma e conteúdo, e que, de um modo geral, todos aprendemos de um modo ou de outro a arrumar numa arrecadação poeirenta da nossa consciência tão individual quanto colectiva — e partindo do princípio (muito discutível, é certo) de que a humanidade ou uma parte significativa desta, partilha de uma consciência moral dita colectiva, isto é, de uma percepção geral e amplamente disseminada do que é moralmente certo e do que é errado, do que é razoável e do que é absurdo, independentemente de variáveis e dissensões entre credos religiosos, político-ideológicos ou de outra natureza.

     O número 2053 hoje aqui proposto — número gordo, número feio…— não é mais nem menos que o número total de explosões nucleares documentadas e contabilizadas entre 1945 — ano da detonação do primeiro engenho balístico nuclear, o ensaio Trinity no deserto do Novo México, em Julho do último ano da II Guerra Mundial — e 1998, e por iniciativa e responsabilidade de pelo menos 7 potências.  

    E ainda que a dança macabra do nuclear ao serviço da destruição em grande escala esteja  longe do fim, é a reflectir sobre este incómodo tema que se nos dirige o convite do artista Japonês Hashimoto Isao (n. 1959), sem música e a um ritmo trôpego e por demais monótono (tão trôpego e monótono quanto o será qualquer discurso que pretenda justificar o injustificável), assim possais dar pouco menos de um quarto de hora do vosso precioso tempo a esta tão simples quão extraordinária obra. 
    
    Um convite ao qual, e em véspera de recordarmos o inferno de Hiroshima, hoje faço eco.






"shame on us, for all we have done..."






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