Dez minutos — obrigatório ver até ao fim...
(excepcional, estonteante Hikinuki [引抜] aos 8.44...)
Recordemos.
Surgido nos primórdios do Período Edo — 江戸時代 [Edo Jidai] — e originalmente executado por trupes compostas, via de regra, apenas por mulheres, a partir de 1629, e por efeito do decreto shogunal que excluía estas do exercício desta arte de palco, todos os desempenhos no Kabuki passariam a ser, desde então, exclusivemente interpretados por actores do sexo masculino — regra que permanece escrupulosamente observada até aos dias de hoje —, sendo, desde essa época, todos papéis atinentes a personagens femininas, confiados, tão-só, a uma categoria muito particular de actores: os Onnagata — 女形, o primeiro Kanji significando "mulher" (女, On'na), e o segundo, 形, kata/gata, interpretando-se por "forma" ou "moldura", sendo estes "personificadores de mulheres" conhecidos também, coloquialmente, pela designação de Oyama [leitura alternativa para os mesmos dois Kanji assim conjugados — 女形].
A singular arte dos Onnagata, transmitida trans-geracionalmente entre linhagens de actores remontando, em tantos casos, a esse imemoriável crepúsculo do Shogunato dos Tokugawa — período que, estendendo-se por mais de dois séculos e meio, e por efeito da pacificação do Japão obtida após a vitória em Sekigahara (関ケ原) em 1600, produziria um dos mais profícuos períodos na História das Artes e Letras do Japão —, obtém, nesta interpretação de "Sagi Musume" [鷺娘 — "A Menina-Garça"] pelo génio do 'Oyama' Bandô Tamasaburo V [坂東 玉三郎 五代目], tido como o mais prestigiado Onnagata da actualidade, um dos mais impressionantes desempenhos que me lembro de ter visto até hoje, no género...
...e se o leitor já chegou até aqui, é porque certamente está interessado no tema!...
Então porque não visionar o segundo fascículo deste acto? São só mais dez (sublimes) minutos!...
...e se o leitor se dignou visionar os dois clips precedentes na íntegra, então vamos lá até ao fim!...
素晴らしい、ですね。 Subarashi, desu ne?
Bom...Não é muito fácil de ver, mas devo dizer-lhe que gostei da pintura cénica. Foi o que me pareceu ver.
ResponderEliminarObrigada.
Ana
Obrigado pela apreciação, Ana. Uma vez mais.
ResponderEliminarSim. De facto, a princípio pode parecer um tanto ou quanto enfadonho — o Kabuki tem esse lado, concedamos.
Mas vai ver que, visionado uma, duas vezes mais, com atenção e empenho, sem requerer um esforço por aí além, o efeito deslumbrante desta actuação se faz revelar em toda a sua extensão.
Uma vez mais, muitíssimo obrigado pela visita.
NBJ
Meu Caro, adorei! Parabéns pela escolha dos vídeos. Para se poder apreciar é fundamental ter uma noção do que se vai passando e por isso o narrador ajuda muito. E este narrador é discreto, não perturba.A beleza visual e cénica são impressionantes, os quimonos são extraordinários.
ResponderEliminarÉ impossível não associar a cena final à morte do cisne, no «Lago dos Cisnes», a meu ver com vantagem para o Kabuki. Agora vou ter de sair, mas voltarei.
Magnífico post!
Um grande abraço.
C.A.,
ResponderEliminarTem razão o narrador é fundamental. Parabéns pela associação com o Lago dos Cisnes, vou ver com outros olhos.
Obrigada aos dois.
Ana
Meu Caro C.A.:
ResponderEliminarÉ bem verdade: a descrição do conteúdo da acção neste caso, pelo "guia" nesta "viagem", facilita muito a compreensão do que estamos, afinal, a ver.
Sem dúvida a presença desse elemento narrativo pesou na minha escolha, porque, d'outro modo, a maioria do visitantes e leitores deste artigo ficaria, muito provavelmente sem perceber rigorosamente nada do que é aqui mostrado.
Fico feliz de constatar que este tema colheu o máximo do vosso interresse.
Obrigadíssimo pela visita, uma vez mais.
Grande Abraço!
*
Caríssima Ana:
Espero que já tenha (re)visto estes 'clips' mais uma, duas vezes, e que tenha podido colher um melhor entendimento e apreciação deste belo momento de Kabuki.
Se ainda não o fez, acredite que vale a pena deter-se a ver um pouco mais...
É sempre um gosto!
NBJ, Fukuoka
Meu Caro,
ResponderEliminarVoltei para rever e para lhe dizer que vi há uns tempos o Tamasaburo num programa com o Yo-Yo Ma que achei muito interessante. Não sou propriamente fã do Yo-Yo Ma (a mistura de géneros que ele gosta de fazer, alguns de duvidoso gosto, perturba-me um pouco) mas neste caso impressionou-me a enorme sensibilidade do Tamasaburo relativamente à música de Bach. Quando vi estes vídeos lembrei-me desse programa, fui à procura, e confirmei que se tratava do mesmo actor. Confirmei, portanto, a ideia que já tinha mas agora com outro enquadramento e alcance. Muito obrigado pelas preciosas orientações sobre uma cultura que sempre me fascinou. Abraço grande.
Voltei para rever e vou de novo voltar.
ResponderEliminarAs sucessivas mudanças de Kimono que marcam o tempo e as sensações são de uma beleza indescritível. No início "estranha-se mas depois entranha-se". A cultura japonesa sempre me encantou. Agora ando a ler poetisas japonesas do século XVII, dois livros que me foram oferecidos e que me estão a espantar. Um dia destes falo-lhe deles.
Fiquei fã do Kabuki, obrigada. :)