quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Chicago, Madrid, Rio... ou Tokyo?




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Das quatro cidades, a única onde nunca estive e à qual não guardo especial afecto é a candidata norte-americana, tendo, as três restantes, lugar cativo no meu coração, por vários e concorrentes motivos de simpatia e afinidade.

Sumariamente e começando pela última candidata elencada:

TOKYO-TO (東京都), JAPÃO - à Kyoto-do-Leste, guardo-lhe necessariamente um especial carinho, mais que por ser a majestosa capital do país que me acolhe, sobretudo porque foi nesta imensa megalópole - a mais populosa área urbana do Mundo - que pela primeira vez, já lá vão quatro saudosos anos, experienciei, com comovida surpresa, a delicada e tão gentil hospitalidade nipónica que ainda hoje tanto me impressiona e tomo de referência.
E não obstante a orgulhosa antiga Edo ter levado a melhor à minha mais querida Fukuoka, cidade de meu domícilio - que também ousou, em dada altura, apresentar a sua candidatura a este prestigiadíssimo evento -, de bom grado lhe dou uma terça parte do meu favor.
A dada altura ter-lhe-ia retirado a minha simpatia, ao ter sido previamente estipulado que a recepção dos jogos de Verão implicaria a destruição da mítica lota de Tsukiji - um dos mais emblemáticos lugares da grande Tokyo, que a perder-se inscreveria uma nova nota trágica na história de tão nobre quanto atribulada cidade -, mas tamanha insensatez acabou por sofrer vários revezes, e a área hoje adjudicada à candidatura nipónica é um espaço já antes atribuído a eventos da magnitude dos Jogos de Verão e a justificar o esforço de renovação que agora lhe foi destinado.
Contra a candidatura de Tokyo, ergue-se, curiosamente, uma parte muito significativa da opinião pública japonesa, hoje muitíssimo mais crítica do que outrora face a "extravagâncias" desta monta, nos quais o Japão é pródigo no abrir dos cordões à bolsa, e sobretudo sendo o tempo presente, virtude da crise financeira que bateu de súbito à porta, uma época de veementes apêlos à contenção e à "moralização" dos dispêndios públicos, discurso que aliás foi muito convenientemente apadrinhado pelo Partido Democrático do Japão e pelo seu líder Yukio Hatoyama, ambos recentemente brindados com uma estrondosa vitória nas eleições legislativas de Agosto.
Acresce - não sendo este necessariamente o mais pesado dos senões ao "bid" nipónico - que esta seria - se contarmos com a atribuição abortada de 1940 - a terceira vez que Tokyo seria chamada a realizar a edição dos Jogos de Verão, e não esquecendo a atribuição às cidades de Sapporo e Nagano dos Jogos de Inverno, em 1972 e 1998 respectivamente.

RIO DE JANEIRO, BRASIL - Onde há Brasil, bate um coração português. Do Rio só tenho nebulosas memórias de uma infância remota - tinha 5, 6 anos de idade quando lá estive pela minha primeira e única vez -, mas o Rio é sempre uma imagem estonteante na grande alucinação lusíada. Querer que o Rio ganhe esta causa, é querer ver nessa vitória algo de nosso - quanto mais não seja a primazia da Língua de Camões no anunciar de provas, títulos e heroismos ao longo das festividades, a ser-lhe entregue a comenda - mas é mais que isso: é um carinho, é um apego de família à Pátria Irmã, essa onde flui tanto do sangue e da Alma de Portugal. Deus Te abençoe ó lindo Brasil.
O Rio tem a seu forte favor o apresentar da sua candidatura num momento histórico de crescente e empolgada afirmação do Brasil no Mundo e sendo este o mais empenhado e apaixonado esforço até hoje visto por parte de um país sul-americano em trazer a grande parada olímpica para o seu continente, o qual nunca colheu a honra e o previlégio de tamanha chance.
De mal com o Rio de Janeiro, é certo e não há como negá-lo, pesa, acima de tudo o mais que se possa nomear, uma triste e dura história bem presente de desvairada violência urbana quotidiana, e esta constitui um embaraço de dificílimo desenleio para a Cidade Maravilhosa. Quero crer que este aspecto flagrantemente negativo para a candidatura carioca não terá sido negligenciado pelos respectivos promotores, mas o certo é que menos ainda o será por parte da instância decisória...

MADRID, ESPANHA - A España quiero mucho y aún más a Madrid. De Madrid tenho muitas e variadas recordações, e é, de todas as cidades de Espanha, aquela onde sempre me senti melhor acolhido.
Como não comungo de quaisquer sentimentos de anti-Castelhanismo primário, a questão de ter a capital espanhola como anfitriã dos Jogos não me faz a mais pequena espécie.
Madrid merece. E a exuberância de Madrid reclama esta oportunidade.
Recuso-me peremptoriamente a conjecturar sobre os hipotéticos benefícios ou malefícios (se os há quem os aponte) que a atribuição desta responsabilidade à terceira maior cidade da União Europeia traria ao vizinho Portugal. É matéria que relego para os especialistas de título e de direito na mesma. Em todo o caso, a candidatura madrilena é a segunda que pior conheço e como tal concluo aqui, e a seu respeito, a minha dissertação.

CHIGAGO, ILLINOIS, E.U.A. - E acerca da moção americana menos ainda tenho a dizer, para além do óbvio de que esta é uma candidatura muito forte e promissora, não obstando serem os Estados Unidos da América o país que possui, no seu currículo, o recorde de concessões na organização dos Jogos, contando o somatório - 8 ao todo - das atribuições referentes ao Jogos de Verão asim como aos de Inverno: Saint Louis em 1904, Los Angeles em 1932, novamente Los Angeles em 1984, e ainda Atlanta em 1996 (Jogos de Verão), recordando ainda Lake Placid, Squaw Valley, novamente Lake Placid e finalmente Salt Lake City, nos anos de 1932, 1960, 1980 e 2002, respectivamente (Jogos de Inverno).

Deixo-vos com o bonito filme promocional da candidatura de Tokyo, muito bem feito:


Gambatte kudasai!

5 comentários:

  1. 1. De todas as cidades, a única que conheço é Madrid, da qual guardo boas memórias.
    Como sou um ibérico convicto, confesso que seria a cidade que escolheria viver o resto da minha vida se ganhasse o euromilhões. :))))

    2. De facto é um clip promocional muito bem conseguido, demonstrando assim o talento dos japoneses para a multimédia.

    3. Os japoneses (eles e elas) são extraordinariamente belos, tendo uma fisionomia que deixaria deliciado qualquer pintor ou fotógrafo ocidental. ;)

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  2. E lá ganhou o RIO.
    Fiquei feliz.
    Estava a ver a eleição em directo aqui, noite dentro, em casa, vespera de Sábado; quando anunciaram a exclusão de CHICAGO, confesso foi um "Fixe..." que disse para dentro, pois que realmente creio que teria sido uma injustiça impensável darem outra vez a prenda à América.
    Depois quando foi a vez de preterirem TOKYO, aí já senti um ligeiro apertozinho de coração: também confesso que ter-me-ia dado um gozo enorme dar comigo a pensar que podia em 7 anos ter os JO's aqui ao lado... espera lá...eu disse aqui ao lado?... Eh pá não!: FUKUOKA-TOKYO ainda que estando no mesmo país distam uma da outra o mesmo que LISBOA-MADRID (estou mais próximo de SEOUL que de TOKYO, é verdade!), por isso se eu na altura estivesse de regresso à minha Lisboa Antiga das vielas e calçadas, ia dar ao mesmo - a fazerem-se os jogos no coração de Castela.
    Mas depois daquele nervoso-miudinho d'uma hora à espera de ver a quem saía a sorte-grande, quando o homem abriu o envelope e deu para ver que era mesmo o RIO foi mesmo um pinote d'Alegria e uma comoção de fim-de-filme!
    O RIO merece inteiramente esta chance, e a Língua Portuguesa terá uma oportunidade histórica de se dar mais ao Mundo, isso é inequívoco.
    Surprendeu-me e tenho a saudar: o argumento do medo pela insegurança não vingou e caiu por terra, e isso é um sinal de coragem e confiança da parte do C.O.I. que é constitui um extraordinário bom exemplo para o Mundo inteiro.

    NBJ

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  3. Fiquei igualmente confiante. Entendo que será uma oportunidade grandiosa também para a Pátria de Pessoa.

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  4. Uma palavrinha sobre o Rio :-)

    Lá estive apenas uma vez, há 3 anos, inclusive passei o reveillon. Infelizmente, não pude ir aos principais pontos turísticos, embora alguns locais famosos, como o Jardim Botânico e a lagoa Rodrigo de Freitas (bem como as praias de Copacabana, Leblon e Ipanema)tive oportunidade de conhecer.

    Não nego sua beleza, mas também não pude deixar de notar o quanto a cidade está "judiada". Mau cheiro, lixo espalhado, trânsito caótico, enfim. O Rio necessita de um cuidado maior por ser uma referência nacional e um dos lugares mais visados pelo turismo internacional. Quanto à violência, não há necessidade de se falar muito a respeito, pois todos já sabem como é.

    A escolha desta cidade dividiu a opinião dos brasileiros. Alguns acharam o máximo, outros contestaram: "dinheiro para as olimpíadas tem, mas para a saúde, educação, reforma agrária, moradia, não (porque a maior parte das "desculpas" em não se realizar melhorias à população é a falta de verba)" Particularmente não sou contra a escolha, mas não deixo de dar alguma razão aos que não apreciaram a ideia, em especial pela vergonhosa corrupção tão fortemente presente neste país, há tanto tempo.

    Espero que traga benefícios ao país como um todo e que as pessoas de fora tenham um bom divertimento e bons momentos na Cidade Maravilhosa!

    Beijos

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  5. Caríssimas Adsensum e Gigi:

    Muito obrigado pela vossa visita e comentários.

    Cara GiGi: compreendo e considero muito pertinente o seu comentário. Em todo o caso, espero muito sinceramente que os J.Os. tragam benefícios reais ao RIO, às pessoas e ao Brasil. Vamos torcer para que esta oportunidade seja mesmo um grande sucesso.

    NBJ, Fukuoka

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