segunda-feira, 31 de agosto de 2009

Ainda no rescaldo das eleições...





6 comentários:

  1. Como não estou por dentro da política e sociedade japonesa, só por curiosidade, qual é a orientação ideológica do novo PM?

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  2. Olá Maldonado.
    Respondendo na medida do possível ao que me perguntas:

    Tanto quanto me é dado perceber, o Minshuto/D.P.J. é um partido centrista que junta gente vinda de vários quadrantes políticos.

    Creio que em muitas matérias - salvaguardadas as peculiaridades da sociedade Japonesa e as abissais diferenças entre esta e a sociedade Norte-Americana - o D.P.J. pode perfeitamente ser comparado ao Parido Democrático nos E.U.A.: preocupações sociais mais vincadas, muita prudência no que concerne a posições de força em matéria de política externa, ideias claras quanto às questões ambientais e ao que é preciso ser feito.

    Em matéria económica, não creio que Hatoyama e o D.P.J. sejam muito diferentes do Jiminto/L.D.P.- o sentimento liberal essencial do "laissez-faire, laissez-passer" preside às visões de ambos.

    Numa coisa muito importante Hatoyama e D.P.J. parecem-me, pelo que tenho apreciado, muito distanciados do L.D.P.: a questão da tradicional (desde o pós-guerra) subserviência de Tokyo perante Washington, sobretudo nas questões cimeiras da política internacional e em matéria de defesa comum.
    Parece-me que sobretudo neste último campo as coisas vão mudar a sério, assim este novo governo que aí vem tenha vontade e capacidade para isso.

    O Japão precisa urgentemente de rever a sua constituição para a questão da defesa nacional e não pode viver eternamente sob a alçada militar dos E.U.A. - não é justo, não é aceitável e não é benéfico para ninguém.

    O 1º teste vai ser já nos próximos meses com a questão da Base de Futenma, em Okinawa, que alberga o III Corpo Expedicionário de Marines e a qual se encontra situada numa área sobre-povoada, onde o tráfego de aeronaves militares causa grandes transtornos à população local e é objecto de muitas críticas por parte da opinião pública e de vários círculos políticos e sociais Japoneses.

    Vários crimes cometidos ao longo de várias décadas por G.Is. a serviço nas bases em território Japonês, também contribuiram para a imagem muito negativa que muitos Japonese têm da presença militar Americana no país.

    Relativamente à questão da base de Futenma, Hatoyama já anunciara que quer uma solução "adequada" para o problema, mas o State Department em Washington já deu a entender que nem quer ouvir falar do assunto.

    NOTAS:
    1. Okinawa esteve sob ocupação militar e administração Americana até 1972, altura em foi operada a restituição do arquipélago à soberania Nipónica.

    2. O Japão e os E.U.A mantêm em vigor o Tratado de Defesa e Cooperação Mútuas de 1960, que coloca o Japão sob protecção militar Americana.
    No entanto - e apesar do famoso Artigo 9º da Constituição de '47, onde é explicitamente referida a abdicação do Japão do direito soberano de "prosseguir a guerra enquanto processo de resolução de confitos entre estados", e como tal, entende-se, de possuir Forças Armadas - o Japão possui as suas próprias "Forças de Auto-Defesa Nacional" (assim pomposamente chamadas por óbvios motivos de enquandramento legal da sua existência) também conhecidas por JIEITAI, que, não obstante não se tratarem "legalmente" de um contigente militar organizado em três ramos, na prática são as Forças Armadas "de facto" do Japão e dispõem de uma capacidade e prontidão combativas claramente superior ao da maioria das forças convencionais da NATO, por exemplo (o Japão tem o 5º maior orçamento em matéria de DEFESA a nível mundial...). E para mais o JIEITAI é largamente equipado por uma indústria miltar nacional própria - que existe e não é pequena...

    Na prática o JIEITAI só se encontra realmente restringido quanto às categorias de armamento que pode possuir - não podendo,por exemplo, a Marinha, possuir porta-aviões (mas tem-nos... só não tem aviões na pista, tem em vez disso helicópteros, mas tira-se de lá os helicópteros e vamos ver se a pista chega ou não para aviões de combte...).
    Isto como é fácil compreender é uma grande fonte de embaraços e mal-entendidos, que tem de ser reformado urgentemente.

    Abraço,

    NBJ.

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  3. Grato pelo esclarecimento.
    Fiquei elucidado com a tua sucinta exposição.

    1. Já suspeitava que o DPJ fosse progressista. Não posso classificá-lo como de esquerda, pois pugna pelo liberalismo económico.

    2. Desconhecia a capacidade militar japonesa. Pensava que a mesma fosse fraca devido às restrições constitucionais resultantes do fim da 2ª GM.
    No fundo o Japão poderá armar-se bem quando lhe for possível legalmente. Porém, oxalá que o espírito fanático militarista (lutar até à morte e nunca se render) não ressurja...

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  4. Não creio que o Japão - como a Alemanha ou a Itália - alguma vez, nos próximos 500 anos, venha a embarcar em qualquer aventureirismo militar ou expansionista seja de que espécie fôr (só se fôr no Espaço!).

    O Mundo, desde os anos 30 do século XX para cá, mudou demasiado para que isso fôsse sequer imaginável.
    As visões dominantes desse período podem angariar as simpatias de seja quem fôr, porque é irrelevante pensar "Ah sim! mas a Grande Esfera de Co-Prosperidade Asiática... e blah blah blah...".
    Não.
    Uma campanha expansionista agressiva como a que o Japão iniciou em 1931 com a conquista da Manchúria - ou melhor, em 1910, com a anexação da Coreia - teve o seu sucesso (inicial) assente na enorme diferença de desenvolvimento entre o Japão - que era já uma temível potência industrial e militar no final da Era Meiji/início do século XX - e os seus vizinhos asiáticos como a China e a Coreia - países nessa altura ainda muito aquém dos níveis de desenvolvimento e capacidade de afirmação no palco mundial que possuem hoje.

    Hoje, o que é bem mais susceptível de acontecer é precisamente o contrário do que sucedeu há 80 anos atrás: é hoje o Japão quem se encontra na posição mais vulnerável e é - junto com a Coreia do Sul - o país mais susceptível de receber um ataque de proporções imprevisíveis vindo de um vizinho ou de ser subitamente empurrado contra a sua vontade para um conflito maior a nível regional.
    Daí a questão da defesa nacional ter, em meu entender, a importância crucial que tem neste momento.

    NBJ

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  5. Realmente, perante o que disseste, faz bastante sentido o Japão ter uma política de Defesa autónoma. Aliás, acho absolutamente desnecessário os EUA manterem uma força de considerável envergadura (50.000 efectivos) em Okinawa.
    Se calhar por essa razão é que Mishima cometeu o acto tresloucado de tomar o QG das forças japonesas e apelar ao Japão tradicional livre da influência americana.
    Acredito também que o Japão tenha enveredado pelo pacifismo e que jamais embarcará em aventuras militaristas.

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  6. Grande Referência: MISHIMA.
    Ainda bem que o mencionas! Estamos em absoluta sintonia.

    Se bem que eu considero que o assalto ao QG do JIEITAI em Ishigaya em 25.11.1970 foi essencialmente, ou acima de tudo, a sua última "performance" teatral (ele era, mais que tudo o mais, um homem do palco...), a argumentação de então, o "leitmotiv" para esse momento histórico, tem hoje maior validade do que nunca...

    Havemos de falar de MISHIMA num futuro muito próximo!...

    Grande AbrÇ.

    NBJ.

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