quinta-feira, 21 de outubro de 2010

Ali mesmo, ao virar da esquina...








Sōfuku-Ji  —  崇福寺





Certamente ter-se-á passado, já, o mesmo convosco:




      
      Vivermos a cinco, dez, vinte minutos de caminho, a pé, de um certo lugar que ali sempre esteve, à nossa espera, ou do nosso deslumbramento, e que, porém, por este ou aquele motivo de força menor — ora porque se acha duas ruas por detrás daquele mesmo-de-sempre percurso que nos leva de A a B, de casa à escola, do escritório à mercearia, do dia de trabalho árduo, saturado, ao sossego letárgico do lar —, nos escapou... durante anos...












...E assim foi comigo e o Sōfuku-Ji [崇福寺], O'Tera [寺] — templo, mosteiro — da facção Rinzai [臨済宗Rinzai-Shū] do Budismo Zen, outrora erguido pelo Clã Kuroda [黒田], honrado nome dos outrora senhores desta terra, numa primeira instância em Dazaifu, arrabaldes desta cidade de Fukuoka, e posteriormente trazido ao lugar que hoje lhe serve de solo.




     O imponente e austero 'Mon' [門] que se abre diante dos nossos olhos ao fundo dessa singular viela esquecida entre tantos outros discretos terreiros do distrito de Higashi (東区 — Higashi'ku — o 'Distrito Oriental' da cidade), foi outrora porta do Castelo de Fukuoka, hoje desaparecido...

      E este não seria mais que um outro desses meus fugazes 'fâit-divers' com que de tempos a tempos vos brindo, não fosse este lugar que serve de mausoléu ao Clã Kuroda e, em particular, a um homem, Kuroda Nagamasa [黒田長政], ser meritório do nosso maior interesse enquanto Portugueses de olhos postos a Oriente...




Kuroda Nagamasa — 黒田長政 — 1568 - 1623

     
     E tanto porque foi este Senhor, 'Campo Negro' ['Kuroda'] de seu nome, quem após a queda de Konishi Yukinaga [小西行長], este vencido em Sekigahara — campanha da qual tornaremos a falar muito em breve... — se prestou a assumir o encargo de zelar pelo bem-estar desses NanBan e seu sacerdócio que temiam agora pela sua sorte, despojados do primeiro dos seus benfeitores, Konishi, Daimyo cristão do feudo de Higo — hoje Prefeitura de Kumamoto — e tendo este cobiçado 'han' [藩], situado mesmo a sul do território de Kuroda, sido então confiado por Ieyasu a um dos seus mais encarniçados inimigos, Katō Kyomasa [加藤清正], um fervoroso budista e um inveterado xenófobo como poucos, no seu tempo, igualaram...






      "Que de mim nada temeis, pois que eu cuidarei de em vosso nome, zelar pelo vosso bom interesse e fé como antes de mim, Konishi o fez..." — nestes termos terá Kuroda Nagamasa apaziguado a ânsia dos prelados de Nagasaki, por volta de 1601, logo após Sekigahara...  Coisa que poderia causar estranheza, vinda de um homem que nunca se vergara à retórica dos arautos de Cristo nestas terras e que se conservou, também ele, até ao fim dos seus dias, um devoto adepto do Zen segundo Eisai...






     Nagamasa terá conservado a sua palavra até ao último suspiro, e mormente sabermos hoje que a sua benévola mão patriarcal foi sol de pouca dura — posto que as inúmeras e deploráveis intrigas e quezílias entre Jesuítas (Portugueses, aquartelados em Nagasaki) e as ordens medicantes (no seio das quais  imperava a Língua de Castela, de estandarte ao vento em Kyoto...), tratariam de dissipar a tolerância de Ieyasu e ditar os termos dos Éditos de Expulsão de 1614 —, o seu nome deveria ainda e sempre colher a nossa mais humilde reverência, pois que Nagamasa foi o último dos 'nossos' entre 'eles'... 




     Cai serena a noite. 
     A Sōfuku-Ji regressaremos, também, em breve...


     Por ora, ficam os retratos...



























































[AVISO À NAVEGAÇÃO: não confundir este fuku-Ji  —  崇福寺 — com ess'outro Shōfuku-ji 
— 聖福寺 —, também próximo da base de operações do vosso NanBan e já aqui antes apresentado

1 comentário: