sexta-feira, 8 de maio de 2009

軍艦島 - "Gunkanjima" - A "Ilha-Couraçado": agora já a podemos visitar...

Ele há aficcionados das paisagens civilizacionais obliteradas e decrépitas: eu sou um deles - os que reconhecem nestes lugares uma certa poesia dos escombros - e a esses como eu, por esse mundo fora, dedico este artigo...


Não vos sei explicar este sentimento - limito-me a reencontrar, agora e sempre, uma emoção antiga, inefável, uma suave e terna tristeza feita assombro, como a de quem algures num outro tempo esteve, foi parte daquilo, e para quem aquilo, que o abandono e o esquecimento degradaram, teve um dia um significado vital.


Hashima, (端島), esse lugar desterrado, mais conhecido pela gente daqui como "Gunkanjima" (軍艦島) - a "Ilha-Couraçado" - era, antes de o ser, um mero trecho de terra, ausente do mundo das coisas que importam.
A corrida ao carvão, aquando do período da industrialização do Japão pelo andar da Restauração Meiji, segunda metade do Século XIX, tornou este lugarejo esquecido no mar de Nagasaki, num cobiçado tesouro. 
Não tardou muito para que o progresso imparável dessa potência então em plena ascensão que era o Dai Nippon do virar do século, trata-se do assunto de séria e impiedosamente converter o que era aquela parca parcela de areia e ervas e umas quantas rochas, no complexo enmaranhado-cinzento de monólitos modernos que a Era Das Máquinas, a força desbravante da sobre-indústria nos legou. 
Feita mina de carvão, com a sua gente operária a laborar e a viver lá, Hashima, de seu pouco mais de 1 kilómetro de extensão, chegou, a ser, no seu auge, o lugar do mundo com a maior densidade populacional de sempre  - fala-se de 1,391 pessoas por hectar (139.100 pessoas/km2).

Decaída na sua importância, a produção de carvão cedeu lugar à ascensão do petróleo enquanto rei dos preciosos combustíveis fósseis.

Foi a morte da "Ilha-Couraçado". 
Assim chamada pela gente, pela semelhança que a visão dela sugeria, uma vez vislumbrada no horizonte, com um certo vaso de guerra da época, o Tosa.

Alguma Alma lá ficou - dizem os que sabem - desde que a última embarcação de operários e suas famílias deixou o ilhéu de betão-armado, já  lá vão trinta e cinco anos...

E talvez por essa Alma Operária que o betão guarda em santuário e que está lá, vive lá, há quem a nomeie ainda, com maior temor reverencial que desdém (assim quero eu crer), de Ilha Fantasma...


Não foram muitos os tantos que quiseram saber mais dela nas três décadas e meia que medearam desde o último frete a deixá-la até à Primavera de hoje: as estruturas foram quebrando, as vigas cedendo mais ao peso do oblívio que ao do desleixo, as habitações, outrora insufladas de vida humana, laboriosa, vibrante, tomadas de assalto pelo silêncio de uma memória ausente e pela erva daninha própria dos lugares sem tarefa.

Não mais foi possível ir lá, entrevistar o silêncio, tirar o retrato à ruína.

Mas soube-o hoje: lembraram-se dela, e podemos agora revisitá-la
Há mesmo quem queira fazer, da "Ilha Couraçado", património de todos nós.

Ela certamente o merece...

5 comentários:

  1. Ao longe parece um forte ou uma prisão, mas não deixa de ser um local interessante. :-o
    É uma pena essa ilha estar ao abandono e tão degradada, pois podia-se fazer aí um museu ou um empreendimento turístico. :)
    Ninguém aí se lembrou de rentabilizá-la?

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  2. Caro Maldonado:

    Soube-o precisamente no dia em que escrevi este artigo: está actualmente a decorrer um processo de reabilitação da "Ilha-Couraçado" com o propósito de a promover ao estatuto de Património da Humanidade - com o aval da UNESCO - porque se trata, realmente, de um local único no Mundo com uma história absolutamente única.

    É possível visitá-la desde o dia 22 de Abril deste ano.
    E é realmente um local que merece a pena visitar, observar, estudar e preservar.
    Se te interessa saber mais sobre o assunto, sugiro-te que comeces por ver os filmes que coloquei em anexo a este artigo - "Ora Vejam Lá... (Parte III)".
    E é mesmo um lugar de cativar toda a atenção do Mundo, até porque o primeiro edificío, as primeiras construções para habitação em betão-armado alguma vez construído/as - datam de 1905! - estão lá e é de facto algo a preservar.

    Mais uma vez, muito obrigado pela tua visita.
    Volta sempre.

    NBJ

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  3. Gostei muito do blogue, vou ser seguidora.

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  4. Muito Obrigado Isa.

    É sempre uma alegria receber uma visita nova neste espaço!
    Volte sempre.

    NBJ

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  5. Às vezes os locais onde estivemos são os que melhor definem as pessoas que ainda somos. A raça humana está cheia de locais abandonados, que em tempos estiveram repletos de vida, de sonhos, e de esperança.

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