努力必実 — "O Esforço Compensa."
Era, sem dúvida, o meu maior desejo, dar, aqui, hoje, eco à máxima acima transcrita, com a mais absoluta convicção e entusiasmo...
É certo: obtive hoje, 14 de Fevereiro de 2010, o meu Sho'Dan — 初段 (1º Dan) — em provas prestadas no Kyuu'Den Tai'ikukan (九電体育館), em Fukuoka, perante um escrupuloso júri do Zen Nippon Kendo Ren'mei (全日本剣道連盟 — Federação de Kendo de Todo-O-Japão), tarefa para a qual — e digo-lo a salvo de quaisquer falsas modéstias — me preparei arduamente ao longo deste último ano que passou.
E como tal, questionais vós (porventura), em uníssono: "Então porque não o fazes?" [dar eco à tal bonita máxima...]
(E, de facto, não o faço.)
Sem pretender justificar-me, ou justificar o meu parecer a posteriori — muito pessoal e, direis vós, muito suspeito, claro está! —, uma mão cheia de observações e uma outra de reflexões (não, dou-vos a minha palavra, não são 'justificações') apoiadas no maior distanciamento de mim mesmo que as circunstâncias me permitem, levam-me a concluir: a minha prestação de hoje foi, quanto muito, sofrível — para não dizer pior... (e digo-lo com sincera mágoa.)
Quiçá de um certo deslumbramento em demasia? Quiçá de um temperamento parco em agressividade (eu sou mesmo assim... — "Onde estava o teu "se'me" [攻め], NanBan?") ? Quiçá dos nervos à flôr da pele? Ou foi da dimensão intimidante do lugar — é que, decididamente, não é, nem pouco mais ou menos, a mesma coisa esse dar o melhor de ti no secludido e familiar conforto de um dojo, modesto nas suas medidas materiais, e fazê-lo num espaço que nos faz sentir como se estivéssemos em pleno Coliseu de Roma ao tempo de Tito Vespasiano.
Ou foi pura presunção minha julgar achar-me capaz de fazer um brilharete, sem ter uma noção fugaz que fôsse do que quer que fôsse ?
Tudo isto, e tanto mais que eu poderia aqui acrescer, certamente obscureceu qualquer promessa de brio que me houvesse dado por delírio.
E foi a ver uma vaidade prematura a definhar, que hoje eu me dei conta de mim mesmo. Malhas que o Império tece...
É certo: eles lá me deram o título.
Mas à saída do recinto não me contive e logo disse para a Etsu:
"Só queria que eles me dessem uma chance de fazer o exame outra vez..."
E, de imediato, a voz de quem tem esse impagável bom senso de tudo quanto é prático — coisa que me falta (oh se me falta!...) — sentenciou:
"Não pode ser. O que está feito, está feito."
Parabéns Mestre Samurai! :)
ResponderEliminarDe facto sentimos sempre essa insatisfação quando terminamos uma prova, sendo algo absolutamente normal. Porém, se a classificação foi boa, há que respirar-se de alívio e mentalizar-se que da próxima será melhor... ;)
O importante é que já estás apto para ser um exímio espadachim... :))
Caríssimo Maldonado:
ResponderEliminarFeliz de te ver de volta.
Já começava a temer que te houvesse sucedido alguma.
Isso é que foram férias, hã?
Do meu "shiken" (exame), e cá entre nós e sem mariquices, em duas palavras:
foi traumático.
A falar verdade.
Não obstante o "triunfo" ao cair do pano, saí de lá desfeito. E ainda ouvi uma ensaboadela do Sensei Kaneko — valha-me o homem que é mesmo como um pai para mim, e eu, dele, acato tudo.
Enfim... queria muito pôr aqui o filme dos "shiai" e da prova de "Nihon Kendo Kata", mas desta não vou fazê-lo — faz-me impressão olhar p'ra aquilo... Foi um autêntico ordálio.
Mas ao fim e ao cabo, é mesmo para isto que o Kendo serve:
para nos descobrirmos a nós próprios...
Hoje, o meu desespero iluminou-me.
Grande Abraço do Japão,
NBJ
@Nan Ban Jin:
ResponderEliminar1. Andei arredado da blogo por questões da vida pessoal alheias à minha vontade. Mas o bom filho à casa retorna... ;)
2. Folgo em saber que, apesar dos pesares, continuas motivado para o Kendo.
Que orgulho sinto, creia-me.
ResponderEliminarFico feliz por ti. O caminho das Artes Marciais é um dos que leva até o cume da montanha.
ResponderEliminarUm beijo!
Caro Amigo, apesar e não te conhecer e de sermos criaturas bastante diferentes , permite -me dizer-te que na minha maneira simples de ver as coisas, tu completas-te um círculo.
ResponderEliminarComo assim ? Talvez perguntes ?!.
Pois bem a última paulada(Perdoa se existir um termo mais técnico)aquela que nunca existe dentro do dojo foi tua.
Quando a desferiste em cima do teu próprio orgulho.
Isso é verdadeira humildade.
Obrigado pela partilha Nan Ban Jin San
Meu Caro Miguel:
ResponderEliminarE creia em mim, Miguel, que as breves palavras que aqui depôs são OIRO para mim — genuína fonte de alegria, inspiração e sentido de missão cumprida.
Ao Miguel, também, lhe dedico esta sofrida vitória.
Um forte e emocionado Abraço,
***
E um imenso OBRIGADO, do tamanho do Mundo, Querida Amiga GiGi.
Pois que é bem verdade o que diz: esse caminho é íngreme e severo, iluminado tão só pela luz da perplexidade, mas que, sem dúvida, conduz o peregrino à mais sublime das visões.
***
E meu Bom Amigo Bic:
Cumpre antes de mais e mais que tudo, saudar aquilo que nos aproxima e não tanto aquilo que nos distancia. E se de um certo prisma aquilo que dizes é acertado, de um outro ângulo, é antes como se o círculo se revelasse, afinal, uma espiral — ao parecer que que se fechou, prossegue, estranhamente, numa nova direcção afora ou adentro, redimensionando tudo aquilo que fora tomado por garantido.
E sem sombra de dúvida, a perplexidade que um tal revés suscita, aniquila o ego até do homem mais firme.
Estou certo de que compreendes aquilo que agora te digo.
Um Abraço, do Coração,
NBJ
“Pesquei” o seu blogue não me recordo onde e quando agora dei uma olhadela, interessei-me por ver que está envolvido no kendo... uma nome que reconheci , pois o meu filho, na altura com uns 12 ou 13 anos, interessou-se por esta forma de artes marciais e lá comprámos o shinai (?), o hakama e o kendogi (espero que sejam estes os nomes). Era interessante observar aquela perícia, a desenvoltura de movimentos. Só que o miúdo começou a ter dores de cabeça – a proteção para a cabeça não era suficiente! Acabou por desistir.
ResponderEliminarE já agora, parabéns!
Olá Catarina.
ResponderEliminarMuito obrigado pela visita.
Os nomes das peças de equipamento que refere estão correctos.
A respeito das dôres de cabeça que o menino sofreu na altura que refere, creio que o fenómeno é absolutamente normal — todos os Kenshi /praticantes passam pelo mesmo processo de exposição à dôr nos primeiros tempos de aprendizagem. O mesmo sucedeu comigo, que no princípio, e apesar de usar um bom 'bogu' [equipamento protector], por vezes regressava a casa com dôres de cabeça e dôres no pulso horríveis. É normal, porque o corpo humano e sobretudo as regiões mais expostas ao impacto do shinai, e apesar da protecção do 'bogu', ressentem-se nos primeiros tempos e a experiência pode, de facto, ser bastante custosa e desencorajante a princípio. Mas depois, inevitavelmente, o corpo acaba por se habituar aquele "ritmo" por assim dizer.
Mas não haja dúvida que um bom 'bogu' especialmente reforçado, sobretudo no que se refere ao 'men' (cabeça) e 'kote' (protecção de pulsos) ajuda a aplacar a rudeza de certos golpes e pode, como tal, ajudar o praticante menos experiente a ultrapassar o desagrado de certas dôres iniciais.
Na verdade, o aspecto na práctica do kendo que, a meu ver, se pode revelar mais "penoso", por assim dizer, e levar muitas pessoas a desistir, é exigência física e mental que esta arte/modalidade exige: os treinos vão-se tornando mais e mais extenuantes e o praticante pode ter alturas em que se sente terrivelmente próximo da exaustão, tanto física como mental. Mas também a esse respeito, todo aquele que praticar o Kendo com genuíno interesse e empenho acaba certamente por suplantar as agruras da pressão.
Aliás esse é um dos aspectos mais fascinantes do Kendo: a faculdade que esta modalidade tem de revelar no indivíduo uma capacidade de superação que ele terá eventualmente julgado ser, da sua parte, muito mais limitada. É algo de verdadeiramente revelador e que está no centro da compensação física, psicológica e espiritual que o Kendo proporciona aos seus praticantes.
Os meus mais amigáveis cumprimentos,
NBJ
Obrigada pela explicação. Gostei de ler. Somos uma família que sempre se interessou por artes marciais (no meu caso apenas quando era adolescente)... só que... desistimos. Aparecem outros interesses, outras actividades talvez mais aliciantes na altura. Hoje tenho pena. Tudo de bem para você.
ResponderEliminarO comentário da Etsu fez-me lembrar um verso de Tom Waits numa canção do filme do Coppola «One From de Heart» que, se a memória não me falha, é assim: «you can't unring a bell», ou seja, não podes "destocar" uma campainha. É verdade que sim, mas podemos guardar memória do som. Belo post, meu Caro NanBanJin! Parabéns por tudo (facto e memória). Temos Samurai!:-)
ResponderEliminarUm grande abraço
Bom, não nos conhecemos, mas partilho da sua alegria, pois é a melhor forma de comunhão. Parabéns e um abraço para si.
ResponderEliminarNuno
Caríssimo C.A:
ResponderEliminarUma vez mais, obrigadíssimo pela visita.
A referência no comentário é, sem dúvida, bem escolhida.
De facto queria dar mais a mostrar, mas agora é começar já a preparar o próximo.
Grande Abraço.
***
Caríssimo Nuno:
Fico muito satisfeito de o ver por cá.
Muito obrigado pela amabilidade das suas palavras. Guardo-las com muito apreço.
De facto, não nos conhecemos — vamos-nos conhecendo.
O Nuno certamente terá já observado ser eu um atento e interessado seguidor do "Obliviário", acerca do qual aproveito esta chance para lhe transmitir as minhas mais sinceras felicitações: trata-se de um dos espaços de leitura 'on line' por mim mais apreciados e de cuja 'companhia' tão cedo não prescindirei.
Apareça, o Nuno, "por cá" também, mais vezes.
Um Caloroso Abraço do Japão,
NBJ