sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Se As Cidades Fossem Mulheres...

Tomando de ensejo um simpático comentário vertido no artigo anterior, assim desfilam, ante meus olhos, as Matriarcas do Japão:

TOKYO-TO (東京都) — Herdeira de um poderoso império financeiro e industrial, ao género de uma Ivanka Trump, dessas que, de quando em vez, fazem a capa da Forbes, ou d'outras dessas publicações periódicas sobre e para milionários, de esbelta figura, elegantíssima onde quer que vá, e cobiçada por mil e um pretendentes ao matrimónio. Inacessível ao comum dos mortais, meticulosa no escrutínio das indumentárias e acessórios, invariavelmente luxuosos ainda que por norma discretos. Inteligente, vigorosa e consciente nas tomadas de decisão e sobretudo nos negócios, elegendo minuciosamente cada uma das palavras que usa, reservada, e contudo assertiva, em todas as entrevistas que concede, uma reputação feita de prestígio e triunfos em todas as campanhas onde se bateu, e a conservar como absoluta prioridade.

YOKOHAMA (横浜) — A irmã mais nova da primeira, um tanto estouvada, dada ao gozo da vida e das coisas que o dinheiro permite comprar, entregue a um certo speed of life, uma espécie de Paris Hilton. Mas não é nenhuma tonta.

NAGOYA (名古屋) — Jovem Advogada de sucesso, laboriosa e brilhante desde a infância. Não raras vezes vê-se aflita para honrar todos os compromissos profissionais que colhe, mas jamais deixaria um cliente em apuros e não suporta perder uma causa na barra dos tribunais. De quando em vez aprecia uma noite de chill out. Gosta de sair com os amigos de sempre. É bonita e muito agradável num serão a dois, mas não se deixa ludibriar em conversas de engate.

KYOTO (京都) — É uma velha e azeda Professora Catedrática de História das Artes, solteirona e antipática até à medula; insuflada de pretensões aristocráticas, trata este mundo e o outro com o desdém e a arrogância de quem só vê decadência e desencanto à sua volta. Vive num mundo privado e inacessível, feito de todas as nostalgias de um passado grandiloqüente que ela julga só ela ter conhecido e que se assemelha a um delírio perpétuo. É raríssimo vermos-lhe um sorriso no rosto — só se fôr de maledicência... —, mas se porventura calha conceder-nos a remota chance de com ela privarmos por umas horas, poucas que sejam, de conversa, aí arrisca-se a revelar-se a mais fascinante das mulheres...

OSAKA (大坂) — Cabeleireira, já bem para lá dos quarenta, loira espanpanante, giríssima, um mulherão. Divorciada e com três putos, logo p'la manhã agarrada ao telemóvel que segura entre a orelha e o ombro flectido, a exaltar-se em mais uma quezília com o ex-marido, enquanto lança nervosa, com uma mão, um sem-número de utensílios mala adentro antes que haja de sair de casa para levar os miúdos à escola, que já é tardíssimo! e ainda tem que ir às finanças e à segurança social antes de ir para ao salão, e isto tudo enquanto na outra mão segura as chaves do carro e em simultâneo faz sinais aos catraios para se despacharem para sair e para se portarem bem, sem se arreliarem uns aos outros, "A. deixa a tua irmã em paz!! Não te digo outra vez!! B. quantas vezes já te disse que não quero que vaz p'ra escola sem beber o leite!!?...".
Mãe extremosa, os filhos são TUDO, por eles atirava-se às feras da selva, homens ninguém lhos conhece, e queria tanto viajar, ver o Mundo... Paris, o Rio, New York, Las Vegas... mas a vida tarda a dar-lhe uma folga...
Divertida e alegre até na tristeza, não dispensa uma boa gargalhada por dia, mesmo que só haja razões para chorar. Jamais faltaria àqueles que traz no coração. A working class Dolly Parton, que todos gostarímos de ter por confidente e amiga dilecta.

HIROSHIMA (広島) — Nobre e altiva Senhora, um exemplo de bravura. Formou-se em engenharia, num tempo em que "essas coisas não eram para mulheres". Casou, foi mãe, cedo ficou viúva e, como se não bastasse, um tumor maligno foi-lhe morte anunciada. O amor de seus filhos foi-lhe a força do Céu que a fez vencer as trevas. O rosto eterno da Vitória da Vida sobre a Morte.

FUKUOKA/HAKATA (福岡/博多) — A minha amada. Arquitecta, vive pela Lei do Rigôr. Jogging logo p'la manhã no parque, de bicicleta a caminho do atelier, cuida da linha como se fosse o primeiro dos mandamentos da Lei, mas não esconde o quanto gosta de comer, e bem! Ama a natureza, deita-se a ler um livro sob a sombra de uma árvore no parque, evita o excesso de Sol.
Por vezes parecer-vos-á algo pedante e até um tanto forçada na sua sofisticação, que sugere disfarçar uma certa insegurança interior. Todavia, garanto-vos que jamais vos decepcionaria.

NAGASAKI (長崎) — De ascendência Portuguesa, Holandesa, Chinesa e Nipónica, sofreu a bem sofrer às mãos de escroques e outros sujeitos sem carácter. A vida foi-lhe madrasta, mas conservou-lhe os traços suaves de uma beleza jovem e exótica que a todos mesmeriza. A sua personalidade é absolutamente distinta da das demais senhoras deste elenco. Mãos de oiro nos condimentos, legado da sua rica ancestralidade, abriu há uns anos o seu próprio restaurante e este é já hoje uma referência entre os aficionados dos cardápios de excelência.

Agora, escolhei a vossa Dama e apaixonai-vos...


3 comentários:

  1. Que posso eu comentar? Simplesmente...
    Um post fantástico!

    :-*

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  2. Fantástico, meu Caro! Estou sem palavras... Com esta apresentação o difícil é escolher. Muito obrigado!
    Um grande abraço :-)

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  3. Gostei da tua descrição poética dessas cidades: simplesmente fantabulosa! :-o
    Perante tantos elogios, eu prefiro apaixonar-me por todas e tornar-me polígamo... :P

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