domingo, 18 de dezembro de 2011

Quando a esmola é muita...



Aquilo que deu n'isto.






Como é hábito nestas ocasiões, chego tarde à festa.
É que, honestamente, são assuntos que me aborrecem e eu, confesso, detesto representar papéis de São João de Patmos, para mais quando não vislumbro o mais pequeno ensejo de redenção dos ímpios no horizonte.
Mas esta maçou-me... e maçou-me a sério, é verdade, ou melhor, citando o saudoso Almirante Pinheiro de Azevedo, 'é uma coisa que me chateia, pá'.

Ora então vejamos, ao que me constou, anda para aí um frenesi sobre a quem a EDP — principal fornecedor de energia eléctrica do e ao país que dá pelo nome de Portugal — deverá ou deveria ser vendida num futuro próximo.

Surgem, ao que consta, três Reis Magos neste natalício presépio, um Alemão, um Chinês, e um Brasileiro — este último, ao que parece, desdobrando-se em dois.
Dos três-que-são-afinal-quatro, abstenho-me de me pronunciar acerca dess'último, bicéfalo, que, para mais, parece ser o que menos solicitude colhe.
Detemo-nos pois na adoração dos dois primeiros.

Ora, ainda ao que consta, erguem-se, por aí, as vozes esganiçadas de uns quantos que, de sobrolho franzido — esse vicioso tique tão português, tão característico desse síndrome de Tourette nacional e colectivo, que a cada dia que passa, mais me parece maleita mais congénita que crónica... haja Deus... —, ora dizia eu, que de sobrolho franzido e (parece que os vejo daqui a espumar de germano-merklofobia aos cantos das bocas e ao sorver da bica da manhã p'la fresca...) e agitando, muito irritados, as folhas dos jornais ao balcão, se insurgem contra esses obscuros interesses políticos que favorecem a teutónica investida, quando era o mandarim chinês quem punha na mesa o melhor quinhão...

Parece que os vejo daqui, aos mesmos, ao balcão da pastelaria da Baixa, enfunados como velas em dia de tempestade e a uivar irados "isto é que é, tudo a mesma corja... o que a velha lá em Berlim mand'eles fazerem, lev'ós logo a correr ao beija-mão... isto é alguém de cá a meter ao bolso, 'tá-se mesmo a ver... 'tão todos bons uns p'rós'outros... mafia... tudo feito em família... rica seita esta..."...

E mais um esticado rol de invectivas deste e pior teor, e tudo porque quem paga mais é quem mais zela pelo nosso interesse — assim pensam eles.
Oh gente a saldos! 
Oh povo fácil de comprar.
Oh grei sem outra lei que a impressa em notas de larga cifra.
Oh matilha de perdigueiros que só corre ao faro do vil metal...


Agora, alguém me diga, e de preferência com recurso a um certo senso comum, que diabo vem um Leviatã como a Three Gorges Corp. — é que até o nome mete medo, salvo seja... — que gere o último grito em matéria de megalomania — sim, esse mesmo cujos custos excedem os valores da receita fiscal anual de um pequeno país como o nosso, sim esse mesmo capaz de gerar quase 20 milhões de kilowatts de energia eléctrica para a tal 'Fábrica do Mundo' (como já todos concedemos em chamar-lhe), sim esse mesmo que já engoliu 13 cidades, 140 vilas, 1352 aldeias, 657 fábricas e 100.000 acres de terra de cultivo, sim esse mesmo que já fez dois milhões de desalojados, número que será a dobrar lá para 2020... —, alguém me diga pois, dizia eu, que diabo vem uma criatura destas que mais parece saída da febril imaginação de um H.P. Lovecraft, fazer a um sítio chamado Por-tu-gal, e com que fito avança de garra aguçada sobre uma coisa chamada EDP?...



     Pilhar e demolir, é a palavra de ordem emitida de Pequim. 

     E para esta gente nada se perde, nada se cria: antes sim, tudo se vende, tudo se compra.
     Até as vossas vidas e as dos vossos filhos. Até o futuro de todos nós.

    Vai um cheque em branco?




電気








電⃝   電⃝   電⃝



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